Problema
nenhum com a Valéria Valenssa da vez desfilando seu corpitcho seminu na tela da
tevê – não necessariamente no meio desse povo – às nove e cinco da manhã, às
duas e seis da tarde, às sete e doze da noite. É tanta propina siliconada sambando
por aí sem a menor vergonha e em qualquer horário, que ninguém mais veste a
burca dos incomodados por causa de dois peitinhos e um bumbum.
Só
fico me perguntando se – num repique de censura livre – a diretoria da Unidos
do Projac resolvesse promover a igualdade dos gêneros e eleger um mulato
espadaúdo para acompanhar sua musa nos intervalos comerciais. Atenção para a
fantasia e os adereços: glitter e nada mais da cabeça aos pés, passando
inclusive (e em especial) pela comissão de frente.
Imagina
o carnaval que isso ia dar: a ala dos progressistas comemorando o fim da
discriminação; a dos regressistas criticando a política de cotas para negros na
tevê; a dos fashionistas machões decretando que o que é feio é para se
esconder; a das viúvas do general exigindo o retorno da moral, dos bons
costumes e da folha de parreira; a dos jornalistas defendendo a liberdade de
ereção, digo, de expressão.
O
barracão ia pegar fogo.
Com
receio de que alguém se queimasse de fato, talvez os carnavalescos da emissora recuassem
sua bateria e cobrissem o cristo do rapaz, mais ou menos como Joãosinho Trinta fez
um dia com o Redentor. Daí para que manifestantes e manifesteiros botassem o
bloco na rua e ocupassem as avenidas do país inteiro, reivindicando o fim da
volta da censura, seria um décimo.
Um
décimo também para que os bate-bolas travestidos de polícia sentassem o
chocalho nos foliões e ainda levassem o estandarte de ouro de conjunto e
harmonia.
Melhor deixarmos as alegorias na dispersão: é provável que não
estejamos prontos para assistir a um pau que não seja de selfie. Mal lidamos
com o topless feminino nas praias,
que – sai verão, entra verão – insiste em virar manchete em gê-uns e erressetes.
Idealizem então um bottomless. E
masculino. E em cadeia nacional. A verdade é que, apesar de uma ou outra nota
dez em evolução, ainda atravessamos o samba quando o enredo é igualdade,
igualdade, abre as asas sobre nós.
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