Dia
dos Pais + canção dos Beatles + meu velho em plena forma após seis décadas e
quatro carnavais = a mistura certa na hora certa. Era como a passagem do cometa
Halley, o nosso Vasco novamente na final da Libertadores, Maluf reconhecendo
falcatrua em rede nacional, eu ou qualquer criatura no mundo enchendo – por
livre, espontâneo e irrefreável desejo – aquela garrafa d’água vazia que não
sai da geladeira: eu não podia perder a chance. Escrevia agora ou só na próxima
edição de mim mesmo.
Como
não acredito em reedição ou em vida após a última página, o negócio era
rabiscar uma ou duas palavras para o Seu José (o meu José) hoje. Já. O leitor não se preocupe. Não vou derramar as
pieguices de costume, embora ele as mereça em dobro. Nem vou embrulhar gravatas,
meias e cuecas. Ele merece mais do que os clichês. Também não vou lhe dar
aquele porta-charutos de trocentos reais. Ele não fuma. E vale mais do que os
presentes mais caros sugeridos pela Revista dO Globo.
Vou
só aproveitar o alinhamento de planetas e ideias para dizer que, ao chegar ao
famigerado sixty-four (se eu chegar lá), espero ter a mesma disposição que lhe
sobra para bater os parques de Orlando, a ponto de deixar o próprio Mickey
nocauteado. (Olha eu de novo viajando para as férias na Disney. Me desculpem,
mas é mais forte do que minha desvontade de encher aquela garrafa vazia. Que,
aliás, continua na geladeira.
Foco,
Fábio; foco: Dia dos Pais + canção dos Beatles + meu velho em plena forma após seis
décadas e quatro carnavais.)
Vamos
tentar outra vez: ao soprar a sexagésima quarta velinha, pai, desejo ter o
mesmo fôlego que você esbanja ao ir e vir da feira em sua bicicleta; a mesma
energia que você transpira ao torcer pela Seleção; a mesma ginga com o imposto
de renda que você demonstra ao fazer o seu, o meu, o do mano e até o daquele
amigo que adora aparecer na última hora cheio de recibos e dúvidas. Espero, enfim
e principalmente, revelar a mesma generosidade que você não poupa ao estar sempre
com a chave na ignição, pronto para atender a um chamado urgente de quem quer
que seja.
Da
esposa que precisa de carona até o shopping; do filho que precisa de carona até
o trabalho; do outro filho que precisa de carona até o curso de inglês; da
sobrinha que precisa de carona até a festa; do cunhado que precisa de carona
até o médico; da sogra que precisa de carona até a rodoviária (essa você dá com
um gostinho extra, que eu sei); do amigo que precisa de carona até o aeroporto;
de certo pastor alemão que não precisava de carona – e só queria mesmo dar uma
voltinha de carro.
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