Comigo
é sempre a mesma coisa: volto das férias no dia e hora marcados, mas as férias
não voltam de mim. Dão um jeito de negociar um nevoeiro com os cambistas da
Fifa e não decolam nem por medida provisória. Aí fico eu naquele salão de embarque
meio kafkiano, com ares e tapumes de Galeão, à espera do voo que enfim me
devolva à realidade.
Mas
a culpa não é só das estrelas (ou da falta delas). É minha também. Quem manda
um sujeito com fraco por fadas e ficções viajar para um lugar como Orlando?
Quem manda fazer amizade com piratas, princesas, ETs, dinossauros e ianques?
Quem manda cheirar pó de pirlimpimpim traficado por meliantes feito a Sininho e
os Meninos Perdidos?
Agora
sério: não é fácil para um aficcionado (com dois cês mesmo) aterrissar no
aeroporto dos fatos depois de uns dias na capital mundial do faz de conta – que
acontece. Lá um castelo é tão real quanto qualquer padaria. Uma viagem no tempo
ou no espaço é tão comum quanto qualquer passeio de metrô. Uma partida de
quadribol é tão banal quanto qualquer Fla-Flu.
Naquela
cidade sem montanhas nem praias (a não ser as de cloro), pasmem: até a paz galáctica
é possível. De repente vejo americanos e árabes, cristãos e muçulmanos,
brasileiros e argentinos dividindo a mesma rua, a mesma calçada, a mesma fila,
a mesma língua – a da alegria de saborear um mundo onde a palavra terror só
aparece no letreiro de um hotel mal-assombrado.
It’s
a small world after all? Só se for na velha canção. Orlando é tão vasta quanto
suas planícies e tão plural quanto o Epcot, o parque temático que abriga de vikings
a marroquinos, além de astronautas, arraias e um dragão lilás. É capaz de
abraçar todas as diferenças – de sexo, idade, religião e reticências – e ainda
tratá-las como guests, convidados de
honra de um baile que jamais vira abóbora depois da meia-noite.
Já
sei o que o leitor está pensando: ele passou por uma lavagem cerebral. Verdade.
Passei mesmo. Voltei com neurônios e artérias limpinhos. Zerados. Tão zerados
que me aflige colocá-los de novo em campo para enfrentar os sete a um com os
quais as manchetes nos goleiam diariamente.
Depois de uma viagem dessas, deve ser mesmo sofrível voltar à triste realidade.
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