Me
espanta que algum terráqueo ainda se espante com o American way of business, o jeitinho americano de fazer da vida – e da morte – sempre um bom negócio. Tem causado polêmica, inclusive entre os sobrinhos do Sam, a inauguração do Museu da Memória em Nova York, erguido em homenagem às vítimas e aos heróis da tragédia que pôs abaixo não só o World Trade Center, como também – e talvez principalmente – o sentimento de invulnerabilidade dos Estados Unidos.
Mais
do que o museu em si, onde se veem fotografias,
maquetes e objetos pessoais de quem esteve no marco zero naquela manhã de setembro
de 2001, e mais do que os 24 dólares cobrados na bilheteria (para muitos
a entrada deveria ser gratuita ou ter um valor simbólico), o que indignou meio
mundo ocidental foi o fato de haver no lugar um shop de souvenires vendendo,
entre canecas, camisetas e chaveiros, até cãozinho de pelúcia uniformizado como
os animais que ajudaram no resgate de corpos.
Uma
fofurice de gosto explosivamente duvidoso – o que já rendeu ao local o apelido
de “a pequena loja de horrores”.
A
alcunha é até adequada. Mas a reação global me pareceu um overacting digno dos piores dramalhões hollywoodianos. Uma bomba
atômica em copo d’água. Dessa vez, que o Capitão América não me escute e execute,
os ianques não se superaram. Quando
ouvi falar no projeto desse tal Museu da Memória, lá pelos idos de dois mil e
george bush, imaginei que os imagineers da Grande Maçã fossem mais trekkies – e
pirassem onde nenhum homem, mulher ou klingon jamais pirou.
Cadê
o simulador 10-D para o público experimentar a sensação de se espatifar num dos
edifícios mais altos do planeta? Cadê os fliperamas em que o jogador soma
pontos ao desarmar explosivos, interceptar kamikazes e matar terroristas? Cadê
os cast members vestidos de bombeiros
ou – melhor ainda – de Torres Gêmeas, a postos para fotos com os visitantes?
Cadê os deliciosos cookies, donuts e cupcakes decorados com os nomes das
vítimas? Cadê os fogos de artifício nas cores vermelha, azul e branca para
encerrar o dia no parque com os olhos cheios de glicose?
Que
me perdoem os fãs de Obama e Michelle: mas não se fazem mais disneylândias como
antigamente.
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