Sou
do tempo em que dar um rolé podia acabar em beijo apaixonado, promessa de
namoro ou, na pior das hipóteses, casamento marcado. Sorte que às vezes a
tragédia não era tão grega e só se levava um toquinho básico. Nada demais.
Curava-se o fora com outro rolé, na companhia dos amigos e de algumas biritas.
Só
que o mundo não é mais o mesmo. O clima esquentou no planetinha que em priscas
eras se julgou plano, um belo dia se descobriu tão redondo quanto uma abóbora e
parece, enfim, ter encontrado sua verdadeira forma: a de um octógono. Qualquer
discussão – até as que costumavam acabar em pizza com a galera – virou desculpa
prum MMAzinho (antes, durante e) depois do expediente.
A
batalha da vez são os chamados rolezinhos, encontros marcados por jovens via
internet para dar uma voltinha nos shoppings.
De
um lado do ringue, há os que consideram o “passeio” digno de aspas, cassetetes,
balas de borracha e até prisão perpétua em penitenciária maranhense. O tal
rolezinho seria, na verdade, pretexto para promover arrastões em centros
comerciais. Mais ou menos o que os centros comerciais fazem conosco,
consumidores indefesos, no Natal, no Dia das Mães ou dos Namorados.
Advogados
– especialmente aqueles cujas senhoras não sabem se foram entrevistadas mais
vezes pelo Amaury Jr. ou pelo Pitanguy – argumentam que os shoppings têm todo o
direito de impedir a entrada de quem não pretende usar o Bolsa Família para fazer
compras, almoçar ou ir ao cinema; de quem deseja, além disso, provocar tumulto
e, consequentemente, causar prejuízo a lojistas e afins.
Pobre
de mim então: que passo a anos-luz de qualquer vitrine já avisando que “só tô
dando uma olhadinha”; que frequento o Village Mall e outros redutos cinco
estrelas apenas para diminuir a sensação térmica, botar o sono em dia nas
poltronas assinadas e tirar uns braggies com a Louis Vuitton ao fundo. Eu
estava correndo o sério risco de ir em cana por apropriação indébita e nem
sabia.
Ainda
bem que do outro lado do ringue estão os sociólogos – sobretudo aqueles cujas
senhoras não se tornaram primeiras-damas nem de repartição pública – e demais
candidatos a Mandela. Só eles para formar um black bloc capaz de defender o
direito de ir e vir da classe zê e vandalizar com a estigmatização dos pobres, a
discriminação dos pretos e o apartheid do churrasquinho de gato.
Vocês
leram direito: apartheid do churrasquinho de gato. Já ouvi otoridade pensando em combater não só o rolezinho, como também os
ambulantes que trabalham no entorno dos Iguatemis mais sofisticados. A razão?
Eles estariam mordiscando uma fatia de seus clientes premium, principalmente os
mais refinados, sempre interessados em especiarias exóticas.
Agora
imaginem o que seria de nós, reles assalariados, sem aquela iguaria servida a
preço justo nos arredores dos melhores shoppings da cidade? Cá entre nós: se,
para comer ou beber, dependêssemos dos valores cobrados por um saquinho de
pipoca ou uma garrafinha d’água nas praças de alimentação espalhadas pelo país,
estaríamos mais perdidos que o Caco Antibes numa floresta de cajuzinhos.
humor e crítica na medida
ResponderExcluirEssa galera só qr "causar", mas mtos se usam disso de forma indevida. Qdo acabarem as férias essa palhaçada acaba junto.
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