Vem
aí o primeiro spin-off do reality mais querido do país. O novo programa será
livre, leve e soltamente inspirado na alegoria da caverna, do carnavalesco
Platãozinho Trinta. Livre, leve e soltamente mesmo. Fontes ligadas à (re)produção
do freakshow garantem que a alegoria terá moooiiintos adereços e – para
desespero dos puristas de plantão – alas broadwaymente coreografadas.
As
primeiras cenas daquele que promete ser o hit, o meme, o must! do próximo verão
no horário nobre global já começaram a ser gravadas no último domingo, nas até
então bucólicas ruas do Leblon, bairro carioca com mais celebridades – e Helenas
– que gente por metro quadro. Tudo sob a supervisão de raio-X de Boninho, a
megamente por trás (pela frente, pelos lados) do surreality show.
Vazaram
na rede oito minutos do que seria uma das primeiras dê-erres dessa edição
(assista ao vídeo aqui). O teaser involuntário mostra o participante Batman discutindo
com um nativo, o cineasta autodeclarado milionário Dodô Brandão, que se revela
inconformado com o fato de o herói e outros integrantes da Cruzada da Justiça
terem marcado um rolezinho no shopping mais chique das redondezas.
Xingamentos
e demais demonstrações de afinidade à parte, causaram frenesi na mídia a
ojeriza de Dodô não só pelo Homem-Morcego (segundo ele, “símbolo do capitalismo
americano”), mas também pelo Pinguim (vulgo Joseph Blatter, presidente da Fifa),
e – talvez principalmente – a paranoia da fotógrafa maluquete em relação a um
suposto plano de ocupação comunista, totalitarista, comedor de criancinhas e
tucanos.
Só
um senão: deveriam ter caprichado mais no microfone da Dona Doida. Algumas de
suas tiradas são inaudíveis. Que o som seja ajustado até o início da temporada.
Conseguiram
também um lugarzinho nos trend topics da fama efêmera a vovozilda de óculos
escuros – preocupadíssima com o carnaval fora de época promovido pelo Cavaleiro
das Trevas versão grupo de acesso – e o repórter francês com sotaque de Alain
Delon engajado, mais perdido ali que carioca nos trilhos da Supervia após o enésimo
descarrilamento da composição.
Uma
coisa é certa: com tipos tão impagáveis quanto minha conta de luz em janeiro, a
primeira temporada desse reality verdeamarelamente esquizofrênico – mesmo que
não tenha começado de fato, e que mereça uns retoques do Sr. Edição Mãos-de-Tesoura
– já é um sucesso. Isso porque em poucos takes, como nunca antes na história
desse programa, fez caírem todas as máscaras.
As
máscaras de um país no qual tanta gente – tão bem representada por esses
futuros ex-BBBs – parece ainda estar acorrentada numa caverna, entretida com sombrinhas
e outros fantasminhas nada camaradas. Gente que insiste em acreditar no “factoide”
de que vivemos numa terra sem discriminação, preconceito e afins; de que todo conflito
que estampa manchetes, becos e avenidas não passa de invenção de quem deseja “fomentar
o ódio entre nós” e instaurar por aqui uma guerra civil.
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