Muitas
coisas chamaram a atenção na coletiva de imprensa de Darth Dallagnol e seus stormtroopers.
Uma delas foi a apresentação no PowerPoint, que lembrou aquelas palestras
motivacionais inspiradas nas lições dadas a Luke Skywalker pelo mestre Yoda. Difícil
acreditar que alguém aumente os níveis de midichlorians ou maneje um sabre de
luz com mais tesão ao ouvir “Comandante máximo de sua vida, você é”, “De suas
convicções, seu sucesso depende” e por aí vai.
Também
causou perplexidade, pelo menos aos simpatizantes da Resistência, a acusação de
que o ex-presidente Lula seria o Supremo Líder Snoke, chefe maior da
organização criminosa conhecida como Primeira Ordem. A “prova” oferecida pelo
Ministério Público Galático para ratificar a denúncia foi a reforma (em tese, feita
com dinheiro de propina) de uma cabana triplex na distante lua de Endor, famosa
por ser o lar dos ewoks. Detalhe: não há qualquer documento que ateste a
ligação do acusado com a referida propriedade.
Ademais,
como levar a sério uma narrativa segundo a qual o cabeça de um grupo tão
poderoso, mesmo depois de anos saqueando o universo, só tenha auferido uma
quitinete num planetinha mequetrefe? Ou ele é um cabeça-oca – ou as viúvas do
Império são.
Deixando
por ora as metáforas deste humilde padawan das letras, o que mais me incomodou no
episódio, porém, foi uma intrigante lacuna: se, de um lado, rotulou-se Lula
como o “comandante máximo” da corrupção que reuniu o “consórcio” PT-PMDB-PP –
com a justificativa de que, como número-um do governo por oito anos e nome mais
importante do Partido dos Trabalhadores, “ele não tinha como não saber” –, de
outro, não se fez qualquer menção aos presidentes das duas legendas restantes.
Ué,
por onde andava o mundialmente afamado Mr. Fora Temer, presidente do PMDB há
mais de uma década? Estaria ele tão dedicado assim aos concursos de miss que
não percebeu o quanto seu partido desfilava na passarela da roubalheira? E o
atual governador do Rio de Janeiro, Francisco “Calamidade Pública” Dornelles,
que entre 2007 e 2013 foi o dirigente-mor do PP e ainda hoje é seu presidente
de honra? Em que sarcófago hibernava que não viu seus correligionários evacuando
fora da pirâmide?
Para
o bem da Lava-Jato e, consequentemente, do país, ou o raciocínio que incrimina Lula
– o célebre “domínio do fato” – vale para todos ou não vale para ninguém. Caso
contrário, a operação corre o risco de acabar na UTI da História como mais uma
vítima da síndrome da seletividade, e de servir tão somente como fonte infinita
de memes.
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