Escrevi
na última semana que o Carnaval era a festa do troca-troca, na qual o rei
virava plebeu e o plebeu virava rei. Pura etimologia. É só dar uma espiadinha nas
sapucaís mais badaladas para ver os nobres de todo santo dia exibindo o esplendor
vip que deveria estar nos ombros dos anônimos. De repente, o vírus da rainha de
bateria – que nessa época se espalha mais do que qualquer zika – contamina
notáveis de toda ordem, de atrizes globais a políticos locais.
Um
tal de querer repicar mais que os tamborins.
Nem
um dos poucos camarotes geralmente reservados aos coadjuvantes escapou este ano
– e a loiríssima and famosa Grazi
Massafera foi eleita a Mulata do Gois. Antes que me digam que não importa a cor
e, sim, a simpatia, a graça, o talento: quando novelas, séries, jornais,
realities, programas de auditório ou humor usarem esses mesmos critérios para
selecionar suas “mulatas” – e chegarem perto de representar a diversidade
brasileira –, a gente volta a conversar.
Por
ora, me deixem distribuir meus estandartes de ouro.
O
de fantasia vai para a Branca Maluca. Um luxo a modelo negra ostentando peruca
platinada, camisa da Seleção, frigideira em riste e biquinho à moda selfie. Só
faltou o PM na escolta para completar a alegoria. Já o troféu de ala mais bem
coreografada vai para a do panelaço, da São Clemente. A escola carioca lacrou
ao vestir os brincantes de palhaços verde-amarelos – figurino que dispensa explicações.
Quem também dispensa explicações (mas nunca um bom pão com mortadela) é o Bloco
Soviético, vencedor da categoria melhor conjunto de comunas bolivarianos
esquerdopatas feminazis gayzistas sodomitas comedores de criancinha. A massa não
só pintou de vermelho e irreverência as ruas de São Paulo, como ainda garantiu
o dez em harmonia e revolução.
Outro
estandarte merecidíssimo – o de destrinchar enredos de péssimo gosto – vai para
a agremiação Unidos do Bom Senso. Diante do pai branco que fantasiou o filho
negro e adotivo de macaco (e acabou sendo acusado de racismo), nota máxima para
os que enxergaram ali não falta de carinho, mas uma imensa falta de noção. E sublinharam
que é preciso estar constantemente vigilante para se evitar qualquer atitude –
mesmo involuntária – que reforce estereótipos e remeta a preconceitos seculares.
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