Você
que não está nem aí para o Natal porque acha uma presepada essa história de
presépio; você que não aguenta mais ver aquele idoso-propaganda, vermelho da
cabeça aos pés, anunciando perus em promoção; você que não suporta essa época
do ano em que as pessoas praticamente se obrigam a nevar sorrisos, mesmo com a
temperatura e os preços subindo – você tem o meu perdão.
Só
não tem uma uva-passa da minha misericórdia quem contrata firma para montar o
próprio pinheirinho. Sério. Essa gente existe. E alega não ter espaço na agenda
para comprar um arbusto que seja nas Lojas Americanas. Jura não dispor de meia
hora para juntar o quebra-cabeça de galhos numerados, testar aqueles
pisca-piscas que mal resistem até a noite feliz, pendurar aqueles enfeites de purpurina
pura, prender no topo aquela estrela que insiste em tombar para a direita.
Mas
que graça tem ostentar uma árvore se não foi você que a plantou? Pior: se não foi
você que resolveu onde ficaria a bolota mais bonita?
Dia
desses, estava eu passando por uma pracinha quando dei com várias crianças e
suas babás. Era domingo. Do-min-go. A pergunta que não quis calar: em que lugar
do mundo estariam os pais daquelas mudinhas de gente que não ali, ao lado delas,
rolando na grama, sujando as mãos de terra, empurrando o balanço, jogando bola,
apostando corrida com o vento, cuidando de joelhos ralados?
Cada
vez mais, as pessoas delegam a terceiros aqueles instantes que poderiam render lembranças
dignas dos findes cheios de sobremesa e colchonete na casa dos avós.
É
o fulano que chama a Tia Augusta para levar os filhos à Disney e perde uma
selfie com o Mickey. É o beltrano que encarrega a noiva de escolher o bufê e
desperdiça a prova dos canapés. É a sicrana que pega o resumo de Dom Casmurro na internet e deixa de olhar
nos olhos da Capitu. É a lindona que vota em quem o vizinho vota e joga fora a
oportunidade de decidir seu futuro. É o bonitão que manda a secretária comprar
o presente da esposa e abre mão do sorriso da amada ao perceber que foi ele
mesmo quem garimpou o mimo. É a galera que transfere a vida social para as
redes e mal lembra o quão gostoso é um abraço coletivo entre amigos.
Desse
jeito, não demora até que terceirizem férias e feriados – já que praia,
cachoeira, cinema, teatro ou debobeirismo no sofá só geram estresse e ansiedade.
Nem
preciso dizer que eu ofereceria fácil, fácil meus serviços de baby-sitter em
Orlando, ou mesmo meu apurado paladar na próxima degustação de acepipes. Reler
Machado também não seria sacrifício. Abraços? Forneço-os sem cobrar honorários.
Mas, por ora, vou poupar minha generosidade. Vou dar aos enfastiados de plantão
uma última chance de semear e cultivar a própria árvore; de experimentar seus
frutos – sempre os mais saborosos.
Pelo
menos até eu convencer uns clientes a me contratarem para representá-los em
cada uma daquelas sessões de tortura.
Nenhum comentário:
Postar um comentário