Que
as nuvens tirem férias no réveillon. Que a contagem regressiva termine em
abraços. Que os fogos explodam os maus pensamentos. Que o champanhe adoce as
ideias. Que a ceia engorde a esperança. Que a música ensurdeça o desânimo. Que
as ondas levem as notícias ruins. Que os ventos tragam as boas. Que a saideira
afogue os pessimismos. Que mais festas como essa se repitam. Que as férias
demorem a acabar. Que aquele senador e seus eleitores aceitem o resultado das
urnas.
Que
o verão não faça a gente se sentir em Mordor. Que chova um Rio Doce inteirinho
nos reservatórios. Que seja amarga a pena para os responsáveis pela tragédia em
Mariana. Que eu ganhe muito chocolate: doce ou amargo. Que o Faustão abra a
boca só para comer. Que a Cláudia Leitte entenda de uma vez por todas: Ivete só
tem uma. Que a Lícia Manzo escreva mais novelas. Que o Discovery compre
episódios inéditos dos Irmãos à obra.
Que aquele senador e seus eleitores aceitem o resultado das urnas.
Que
não se confunda liberdade de expressão com liberdade de manipulação. Que as
pessoas não se contentem com as manchetes. Que ouçam quem pensa diferente. Que
opinem menos e argumentem mais. Que não espalhem desinformação nem reforcem
preconceitos. Que duvidem dos especialistas entrevistados na tevê. Que não
troquem o bom humor pelo mau gosto. Que aquele senador e seus eleitores aceitem
o resultado das urnas.
Que
venham muitas medalhas. Que os atletas brasileiros joguem como Neymar e falem
como Joana Maranhão. Que o Vasco volte à primeira divisão e não saia mais de
lá. Que a seleção mereça novamente a inicial maiúscula. Que a audiência do Linha de passe seja cada vez maior que a
do Bem, amigos. Que acabem os
direitos exclusivos de transmissão. Que se democratize a mídia. Que o futebol e
o carnaval sejam realmente para todos. Que aquele senador e seus eleitores
aceitem o resultado das urnas.
Que
panelas sejam usadas para matar a fome. Que o Bolsa Família não sofra cortes.
Que mais pobres e negros ingressem nas universidades. Que os estudantes de
Sampa endureçam se necessário – pero
sem perder a ternura. Que os índios sejam enfim ouvidos após 515 anos. Que
refugiados encontrem portas abertas. Que mais gente viaje de avião pela
primeira vez. Que se construam menos muros e mais pontes. Que se exercite a
empatia. Que aquele senador e seus eleitores aceitem o resultado das urnas.
Que
a Comic-Con venha para o Rio. Que mais tirinhas da Mafalda sejam compartilhadas. Que o Oscar premie os melhores. Que o mundo tenha um
décimo da elegância de Julie Andrews e da lucidez do Chico. Que desliguem os
celulares no cinema, please. Que os
bons filmes nacionais sejam descobertos pelos brasileiros. Que se erradique de
vez a síndrome de vira-lata. Que poetas e músicos recebam passe livre no metrô.
Que aquele senador e seus eleitores aceitem o resultado das urnas.
Que
todo cidadão seja considerado inocente até que se prove o contrário. Que os
amigos do Aécio também sejam investigados. Que se respeite a democracia. Que
Noam Chomsky e Ciro Gomes deem mais entrevistas. Que as bochechas de Pepe
Mujica virem patrimônio da humanidade. Que a redação do Enem seja sobre as desigualdades promovidas pelo capitalismo. Que o Eduardo Cunha
deixe o PMDB e vá para a PQP. Que aquele senador e seus eleitores aceitem o
resultado das urnas.
Que
mãe, pai, mano, tios, primos esbanjem saúde. Que eu encontre os amigos mais
vezes. Que muitas segundas e sextas sejam enforcadas. Que a Fernanda continue a
fazer de mim a minha melhor versão. Que atravessemos o Atlântico outra vez. Que
eu ganhe leitores. Que os leitores ganhem algumice lendo meus textos. Que todo
mundo saia bem na foto. Que a conexão seja mais veloz. Que o povo substitua o
WhatsApp por vida, por exemplo. Que aquele senador e seus eleitores aceitem o
resultado das urnas.
Sobretudo:
que a Força esteja com você. Sempre.