Era
um comercial da Gevetê. Ou da Néti. Ou da Iscai. Não lembro. Tentava vender um combo
qualquer, desses com telefone, internet, tevê a cabo, pombo-correio on demand,
sinal ilimitado de fumaça e tambores wifi. Até aí nada de mais. A não ser o
valor do pacote, que prefiro censurar, em respeito ao contracheque da
tradicional família brasileira.
Ainda
assim, apesar dos números pornográficos exibidos em horário de criança acordada,
o anúncio teria passado invisível na minha intranet, se não fosse o ator
cantarolando feliz da vida – em meio a um cenário café-da-manhã-com-Doriana –
que não tinha mais fins de semana nem feriados, que ficar off-line não era mais
uma opção.
Como
assim, cara-pálida de tanta selfie e sofá?
Quem
decretou que os fins de semana na casa da sogra fofa (ela existe) devem ser
substituídos por hora extra no uatizápi da empresa? Que os feriados à beira-mar
são perfeitamente dispensáveis se comparados àquele fascinante curso de
networking e marketing pessoal via iscaipe? Que ficar off-line para ajudar a
filhota com o quebra-cabeças de mil peças do castelo da Elsa é jogar tempo na
lixeira?
Os
viciados em bytes que me perdoem – mas vida com banda larga de verdade tem domingo
com a família, finde naquela pousada em Cabo Frio, pracinha com os filhos,
cinema com a esposa, jantar com o maridão, conversa fora com os amigos, passeio
com os cachorros, pão de queijo no mercado, futebol na tevê, livro na
cabeceira, bicicleta na rua, soneca depois da sobremesa.
Conexão
de altíssima intimidade com aquele mundo que existe de se pegar.
Não
sei quem teve a ideia de incentivar a humanidade a guardar celular sob o
travesseiro, tablet entre o garfo e a faca, notebook na sacola de praia. Certamente
um sujeito que não sabia que uma noite inteira de son(h)o é o melhor carregador
de bateria; que refeição gostosa é a que a gente compartilha com quem está na
mesa; que descanso de tela dos bons é aquele marzão ali na frente.
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