É
tanta gente que sabe de tudo e de todos que fico na dúvida: ou o Q.I. da
população mundial superou o teto da meta – inflacionando o mercado de
especialistas em assuntos gerais –, ou o bicho-homem botou para funcionar
aquele gene da Mãe Dinah que existe em cada um de nós – provocando a maior
concentração de cartomantes por metro quadrado desde que o mundo é mundo.
Me
causa um frio no fígado toda vez que o senhor Alguém, baseado somente nas
estatísticas do seu achômetro, afirma com aquela certeza xiita que o Fulanildo da Silva
– porque presidente da empresa xis ou do país ípsilon – sabia-sim de todas as propinas
e demais saliências que aconteciam na segunda sala à direita do sexto andar da
subsecretaria da secretaria do departamento do ministério das relações
interiores.
E
me congela a vesícula sempre que esse mesmo senhor Alguém, ungido em tanta fé,
denuncia, julga e condena à pena de morte perpétua o primeiro cristo que lhe dá
a face.
Mal
sabe ele que a senhora Alguém desvia o troco da padaria para os esmaltes; que o
Alguém Júnior passa os fins de semana trancado no quarto vestibulando a
anatomia do corpo feminino; que a caçula Alguém já foi muito além do primeiro
beijo; que sua santa mãezinha gostou tanto daquela camisola com carneiritos, que
mal esperou a loja abrir para trocá-la por uma lingerie de oncinha; que o
estagiário – e não o sócio – foi o responsável pelo almoço-surpresa no
escritório.
Mal
sabe ele, aliás, que desfilou todo sorrisos, nesse mesmo almoço-surpresa no
escritório, com um fiapo de alface entre o canino e o pré-molar.
Talvez
seja ingenuidade minha acreditar que o Fulanildo da Silva não sabia (ou ao
menos não suspeitava) das propinas e demais saliências que aconteciam na
segunda sala à direita etcétera, etcétera do ministério das relações
interiores. Ainda assim, me soa perigoso mãedinaísmo berrar a gigabytes de
distância e sem provas – com requintes de caixa alta – que ELE SABIA ou ELE NÃO
TINHA COMO NÃO SABER.
Quem
é que sabe o que cada um realmente sabe? O Bonner? O Boninho? O Bial?
Nenhum comentário:
Postar um comentário