Primeiro
de janeiro que nada: o ano novo começou mês passado, no último dia 17, quando
Barack Obama e Raúl Castro finalmente tiraram a birra do gancho e trocaram duas
ou três palavras por telefone, comprometendo-se a derreter um dos derradeiros
icebergs da Guerra Fria e restabelecer as relações diplomáticas entre Estados
Unidos e Cuba, interrompidas havia mais de meio século.
Bem
que essa notícia podia derreter também alguns coraçõezitos e inspirar outras
reaproximações em 2015: entre israelenses e palestinos, brasileiros e
argentinos, nosso futebol e o futebol, pais e filhos que não cruzam a mesma
rua, certos políticos e a vergonha na fuça, alguns cidadãos e os livros de
História, você e o vizinho.
Ah
se eu tivesse o poderio de americanos e aliados. Erguia logo um hiperultrashopping
na Faixa de Gaza com uma megapraça de alimentação – religiosamente distribuída
entre judeus e árabes, que eu não sou kamikaze. Quem sabe assim, entre chalás e
quibes, rugelás e esfirras, o ramadã de paz e amor não acabasse num pessach de
abraços.
Abraços
que até nossos hermanos merecem, ainda que insistam na piada de que Maradona
foi melhor que Pelé. Sugiro não contrariá-los. Vai que é doença.
Falando
em doença, que vírus terá enfraquecido o sistema imunológico do nosso futebol? O
do amadorismo endêmico? O do calendário morbidamente obeso? O da volantização
aguda do meio-campo? Especialistas garantem que o tratamento indicado passa por
internação imediata no spa da profissionalização, calendário balanceado e dieta
baseada em formação de meias criativos. Assino embaixo.
Assinaria
também um decreto que proibisse pais e filhos de acenderem sinais vermelhos
entre si. Sob pena de multa impagável e mil pontos na consciência. Permitido
mesmo só o verde. Siga em frente, que sou sua faixa de segurança – deveria
dizer o pai para o filho, o filho para o pai. Família, embora estrada às vezes
esburacada, com uma ou outra lombada no caminho, é sempre via de mão dupla.
Eu digo mão dupla e a malufaria já entende mão grande. Aí não tem saída. Reaproximação, só se for entre os dois pulsos gatunos – luxuosamente adornados com aqueles braceletes prateados que viraram moda em Brasília. O que eu mais gosto neles é a correntinha ligando as argolas. Hype total.
Outra
tendência – essa de péssimo gosto – é a tentativa de uns e outros de reviver o
verde-oliva. Coisa mais demodê. Aos que apostam nessa cor para os próximos
verões, recomendo pegar urgentemente o primeiro DeLorean movido a plutônio e
voltar aos porões dos anos sessenta e setenta. Se não achar algum disponível na
praça, uma visitinha à biblioteca mais próxima já está valendo.
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