Não
adianta atirar toda a floricultura no mar, pular sete mil ondinhas com o pé
direito, mirar o bumbum na direção da lua, tudo ao mesmo tempo à meia-noite,
depois de um dia inteiro se entupindo de lentilha, uva e romã. Repito: não
adianta. Você pode até estar vestindo a camisa branca da paz, a bermuda amarela
da riqueza, a biju esmeralda da esperança, as sandálias azuis da saúde, a calcinha
ou cueca vermelha da paixão.
Com
ou sem simpatia, o ano novo invadirá seu calendário e trará sob as folhas de
louro que guardou na carteira (acha que não eu vi?) todas as promessas não
cumpridas dos anos velhos: perder peso, economizar dinheiro, plantar uma
árvore, entrar na aula de dança, fazer as pazes com o vizinho, aprender uma
língua, se apaixonar, se engajar num trabalho voluntário, escrever um livro.
Promessas,
aliás, que hão de ficar de novo em sexagésimo segundo plano se minhas previsões
estiverem corretas. O que não quer dizer que você vá ser menos feliz por isso.
Os
astros me garantiram: aquela conversa séria com a balança vai esperar a
segunda-feira pós-churras-de-domingo; a poupança vai sofrer uma revisão de
metas para se ajustar àquele finde em Búzios; o flamboyant, ligeiramente maior
que seu quarto e sala, vai dar lugar a uma hortinha de temperos na varanda; o
curso com Carlinhos de Jesus vai dançar outra vez; as pazes com o vizinho vão
acontecer no dia em que ele devolver seu desentupidor de pia (data que nem todo
o Sistema Solar junto é capaz de prever).
De
resto, seu coração vai ser fisgado. Sério. O dono do anzol? A proprietária da
isca? Um espécime nascido em solo francês que logo estará no Brasil prestando
serviço num desses greenpeaces da vida. Olha o milagre: de uma só tacada, você vai
aprender uma língua nova e se engajar num trabalho voluntário. Tudo para ficar
mais perto do seu amor. A história dos dois vai ser tão capa-de-revista que, em
vez de acabar na igreja, vai acabar no Fantástico,
com direito a entrevista e bênção do Maurício Kubrusly.