Ói nós aqui
Respeitável
público acima dos trinta anos: não morra de inveja; mas faça a gentileza de ter
ao menos uma quedinha de pressão. Este que vos rabisca semanalmente deu uma
pausa nas cotidianices para reverenciar de perto, pertíssimo – a coisa de cinco
metros – Didi, Dedé e os Saltimbancos Trapalhões, em cartaz na Cidade das Artes,
aqui no Rio.
A peça, fabuloso
xanadu produzido por Charles Möeller e Claudio Botelho, é de fazer o coração
mais molenga dar ultrapiruetas. A primeira já acontece no iniciozinho, quando a
silhueta do icônico personagem de Renato Aragão surge na cortina. Sobe o véu,
some a (sombra de) dúvida. É ele mesmo: Didi Mocó
Sonrisal Colesterol Novalgino Mufumbo.
Muitas piruetas
Inúmeras piruetas dignas de bravo (bravo!) se espalham
pelas quase duas horas de espetáculo, como a saudosa interação entre Didi e
Dedé, sempre escadamente generoso ao “sofrer” as piadas do amigo; as divertidas
interpretações de Adriana Garambone para a vilã Tigrana e de Roberto Guilherme
para o Sargento Pincel, digo, o Barão; o figurino coloridamente retirado de uma
caixa de bonecas; o (sonho-de-)cenário grandiosamente circense, com destaque
para os leões gigantes; além, claro, das polipiruetas propriamente ditas, encenadas
por acrobatas de carne, osso e borracha.
Superpirueta
Talvez a
maior delas ocorra quando Didi (ou Renato, sei lá) cita os stents que teve de
colocar recentemente para impedir o entupimento de uma artéria. Ô da poltrona: como
não tirar um ou dois psits dos olhos ao se dar conta de que se está diante de
um senhor de quase oitenta anos – ídolo na tevê, campeão de bilheteria no
cinema – estreando no teatro, (re)nascendo portanto num novo picadeiro?
O grande malandro da praça
É impressão
minha ou as canções clássicas (re)criadas por Chico Buarque para as versões
brasileiras do musical de Sergio Bardotti e Luis Enríquez Bacalov (a dos palcos
e a das telas) tomam regularmente o elixir da juventude? Mais que oportuno revisitá-las agora, neste momento (ainda) eleitoral, já que faz pouquíssimo
tempo que Chico, um de nossos maiores artistas, foi crucificado nas redes
sociais apenas por ter declarado voto em Dilma – a ponto de certo colunista promover
até campanha de boicote ao poeta, suposto representante de uma tal “esquerda
caviar”.
Os versos buarqueanos dão sempre um rabo de arraia e inteligência nesses tubarões da imbecilidade.
O pessoal delira
Momento
coxinha da noite: a piadinha de Didi “mais vale um feio na mão do que dois
bonitos se beijando” foi uma das mais aplaudidas pela plateia, composta em sua
maioria por famílias héteras da classe média carioca.
Pano
rápido.
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