Deu uma vontade inexplicável de listar meus medos: os
eternos, os temporários, os sérios, os bobinhos, os que me fazem parar, os que
me fazem seguir. Alguns são tão óbvios e me causam tamanho pavor – o medo da
morte, por exemplo – que não merecem meia cova. É melhor fingir que não
existem; se por acaso derem o ar da desgraça, o jeito é não ter medo – de
fugir. É o que faço. Corro pra bem longe.
Só não quero ficar longe de quem gosto. Nem pensar. A
distância é outro medo eterno e sério. Daqueles que só fazem uma crônica mais
cinzenta do que deveria. Mais colorido lembrar o medo da comida japonesa, já superado
com os devidos sushis e sashimis; da cabeleira selvagem do Caetano
tropicalista, felizmente há muito substituída por fios grisalhos e comportados,
bem menos assustadores (ou não); do Baixo Astral, o vilãozão interpretado por
Guilherme Karan num filme da Xuxa.
Também tenho medo de passar a vida inteira e não rabiscar uma
obra-prima, mesmo que prima em terceiro ou quarto grau: pode ser literatura,
cinema, tevê. Pode ter 140 caracteres. Pode ser um videozinho mambembe feito
com a câmera do celular, um flagrante como o daquela japinha descobrindo a
chuva. Se tiver poesia, já está valendo – valendo, quem sabe, um sofá do Jô.
Os sonhos ridículos, deixemos de lado. Porque o assunto aqui
são os medos. Meu medo cotidianíssimo dos livros com erro na orelha, de gente
que não dá bom dia a porteiro, do juiz que vai apitar o próximo jogo do Vasco, do
metrô sardinhamente cheio na hora do rush. Claro, tenho também aqueles medos
mais coletivos, compartilhados com boa parte da humanidade: o medo dos políticos
que confundem o público com a privada e guardam dinheiro na cueca; dos
binladens que ameaçam a paz mundial; das catástrofes provocadas pelo
aquecimento global; dos figurinos da Lady Gaga.
Medo de comunista? Não. Esse eu deixo pro Lobão e a
pauliceia desvairada dos Jardins.
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