Não
sei se é azaração, paixonite, namorico, compromisso sério, união estável, casamento
até que a morte nos separe. Talvez seja amizade colorida – ainda que tenha lá seus
momentos em preto e branco, seus incontáveis tons de cinza, suas horas meio
sépias. A foto, digo, o fato é que estou pegando a fotografia.
A
paquera começou quando um amigo em comum passou a postar seus instantâneos nas
redes sociais. Não demorou para eu me encantar com aquelas paisagens bucólicas
da Urca, com aqueles bem-te-vis que pareciam posar para um documentário do
Discovery, com aquelas flores que poderiam ter crescido num jardim do Monet.
Desde
então, vivo de câmera a tiracolo – quase como um japa de férias em Paris –, caçando
flagrantes não só da natureza, mas também, e especialmente, das ruas, das
calçadas, dos becos, dos rostos, dos gestos, das luzes, dos muros: de qualquer
pedra-no-meio-do-caminho que se revele um verso; de qualquer pichação que, sob
o melhor ângulo, se desfaça em grafite.
Vale
tudo: o arquiteto (do breve) erguendo castelos na areia; o beijo sendo roubado
numa esquina à primeira vista segura; o buggy amarelo raiando o asfalto nublado;
o balanço repousando numa pracinha descriançada; o vidro estilhaçado dando ares
de Picasso ao casario velho; o sorriso afrouxando a multidão de gravatas; o sol
descascando entre paredes desbotadas; a lua pingando por uma fresta de céu.
Nem
preciso dizer o quanto estou curtindo encher a memória da minha Samsung. A razão
de tanto chamego talvez esteja em escolher o que clicar, que se aproxima muito
do ato – igualmente prazeroso e arriscado, às vezes tenso – de decidir o que
escrever: aquela contagem regressiva (progressiva?) até o flash, segundo-luz em
que passamos a enxergar o mundo sem os filtros do senso comum, com o zoom da
sensibilidade, quiçá com a resolução da poesia.
Não
saio mais por aí como antes, quando parecia usar antolhos, só via o caminho da padaria,
do trabalho, do shopping, e não registrava o olhar do menino devorando os doces
do balcão, o labirinto de baias soterrando neurônios, a prateleira de sapatos
seduzindo corredores de pernas.
Que legal, que lindo. :)
ResponderExcluirTambém curto fotografia, e almejo uma boa relação com ela.
Ultimamente seu blog está sendo textos de cotidiano e reflexivos, sentimental, porem mulheres sabem mais nessa área. Mais está um texto de sentimento masculino que perde um pouco de força comparado ao sentimento feminino que é muito mais sentimental. O homem é racional e as mulheres sentimentais!
ResponderExcluirmais um ótimo texto, o seu blog é um dos melhores que eu já vi aqui na internet, muito bom, parabéns e sucesso
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