Já
faz uma semana que Bruce Springsteen devorou a Cidade do Rock. Que sua voz
rascante tragou os tímpanos de uma plateia a um verso do êxtase. Que sua
guitarra ensandecida engoliu uma multidão de corações a uma nota da catarse.
Que sua banda raspou o prato de um festival até então carente de uma estrela
maior.
É
o que hão de cantar as bibas invejosas, que never
ever serão tão divas quanto a Beyoncé; as balzacas adormecidas, ainda
sonhando com o dia em que ganharão um selinho do príncipe Bon Jovi; os
dedicadíssimos musers, que, por motivos óbvios (além dos numéricos), jamais
farão de seu power trio um fab four; as lolitas sabor tutifrúti, sempre mascadas
– e mascáveis – pelo primeiro Justin que lhes cruza o palco, seja Bieber ou
Timber; e até os metaleiros mais cabeludos e tatuados, que juram identificar
música onde eu só decodifico grunhidos no volume máximo.
Mas
contra fatos – e o inoxidável rock’n’roll – não há argumentos nem pirotecnias:
The Boss, como é conhecido Springsteen, não precisou trocar de fantasia a cada
duas ou três canções (e nos fazer esperar pelo número seguinte com aqueles clipes
chatérrimos, saídos de algum pesadelo de Dalí); não precisou suar a cabeleira
loira, os olhos azuis e o peito descamisado; não precisou solar – exibida e
infinitamente – a guitarra até o chão; não precisou coreografar feito
cheerleader de série B; não precisou de máscara de caveira, nariz de palhaço ou
bandeira do Brasil.
A
ele bastaram a sensibilidade e, por que não, a esperteza de abrir o show
evocando Raul Seixas e sua “Sociedade alternativa”; a simpatia e a coragem de
ir pra galera mais do que qualquer outro artista (para desespero dos seguranças
e alegria dos fãs); o fôlego de cantar e tocar e pular e correr quase
ininterruptamente por mais de duas horas e meia; a entrega de corpo, alma e carisma
a cada faixa do repertório; o clímax apoteoticamente arrebatador, ao som de
“Twist and shout” e fogos de artifício.
A
ele bastou uma apresentação sem frufrus, um espetáculo sem rapapés, um concerto
sem rococós – a guitarra só lâmina.