domingo, 12 de maio de 2013

A inimiga da imperfeição

Não sei se é (só) sinal dos tempos ou se estou ficando (mais) chato. Se são as duas coisas. Se não é nada disso. O fato é que, de vez em quando, tenho a sensação de que a vida segue de banda larga, três, quatro, mil gês, e eu continuo insistindo na velha conexão discada. Chego a ouvir aqueles chiados e ruídos. Conectando...
 
... ao primeiro capítulo da novela: é um tal de apresentar todos os personagens de um gole só que por pouco a gente não engasga. Aliás, apresentar e ponto, com um oi, tudo bem, como se chama, prazer. Próximo. E assim vai. Até o último figurante do elenco centenário (de mais de cem atores, fique claro).

O pior é a primeira vez do casal protagonista. Olho no olho; monossílabos nos monossílabos; forró, pagodinho mela-calcinha – às vezes um Roberto Carlos – no último volume (que sinos é relíquia arqueológica)... e os pombinhos estão irremediavelmente apaixonados. Na marra. No muque. Tenham química ou não.

(Hoje em dia o que vale é a física. Parece.)

Combinemos: não dá. Eu não consigo acreditar em ficção que não seja construída linha a linha, parágrafo a parágrafo, página a página. Qualquer boa estória que se preze não deve ter (olha ela!) pressa. Nesse caso, a danada acaba virando vilã – porque transforma o que deveria parecer vida (com suas idas e vindas, sons e silêncios, sortes e reveses) em mero teatro de papelão, perfeitinho demais para o bom gosto de qualquer um.

Me espanta que, cada vez mais, os novelistas de plantão persistam acelerando suas tramas – como se não tivessem oito meses, seis capítulos por semana, para desenvolver cada uma delas. Curioso é que os roteiristas de séries (especialmente as estrangeiras), que em geral têm apenas um episódio por semana e temporadas de quatro, cinco meses se tanto, consigam dar mais tempo ao tempo de suas estórias, o que costuma torná-las críveis – ainda que falem de zumbis ou ETs – e, por isso, mais interessantes.

Que a velocidade é um mantra dos nossos dias, todo mundo sabe. De repente, viramos (quase) todos personagens de uma corrida maluca em que, cá entre nós, a própria corrida é o Dick Vigarista. E ai daquela Penélope que sentar dois minutinhos no banco da praça só pra fazer um pit-stop e ver o Barão Vermelho passar. Puro charme.

Ai de mim então: que ainda sento diante da telinha (ou telona) sem pressa, à espera de um faz de conta que de fato aconteça, que me conecte com um rabisco de verdade, um traço que seja de algo que lembre o que chamamos de vida. A vida de carne, osso e água na chaleira. Com seus chiados e ruídos.

5 comentários:

  1. Você também sente isso? Eu me sinto cada vez mais velha quando o assunto é novela, porque (tirando Carrossel, que é outro caso) eu não engulo nenhuma dessas que estão no ar ... e é tão bom assistir a uma novelinha de vez em quando, para não pensar em nada, para fazer sonhar mesmo (é, tipo folhetim... e dai?)... mas essa aí Salve Jorge não me desce de jeito nenhum, mal posso esperar para ela acabar. O pior é o casal protagonista que, desculpe, não cola! Vi outro dia vi os atores na Ana Maria Braga, posando de casal perfeito, e a Ana Maria, tentando fazer a gente engolir que eles combinam desde que nasceram. Não acho. Acho o Rodrigo Lombardi péssimo ator (só é bonito, não vou negar), mas as caras de M que ele faz nesse papel são engraçadíssimas apenas...
    Estranho que nem mesmo a música do Rei ajudou a colar, tanto que foi substituída por uma em inglês estilo elevador (essa parece ter combinado mais com o casal e com as caretas do Lombardi) rs
    Se eu for assistir novela, quero sonhar, não quero essa apologia ao universo militar; se for novela, não quero pensar q estou assistindo ao programa do Datena com delegacia e outro bichos... essa ai já deu. Desculpe o desabafo. (rs)

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  2. Roteiro de novelas são os mais fracos possíveis... pois dificilmente alguém "assiste" realmente... pode prestar a atenção, que dá para acompanhar sem ver nada na tv, apenas ouvindo... tudo é falado, descrito... é feito para vender produtos e deixar o pensamento desligado... nem os diretores ficam interessados na história... penso que só o autor mesmo deve ter algum carinho...

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  3. adorei esse post pq vivo entre amigos comentando sobre isso .Há uma diferença muito grande entre as novelas mais antigas e as de hoje e a principal é a interferência da mídia .. ninguém tem mais paciência que a gente tinha em esperar Raquel de Vale Tudo esbofetear Maria de Fátima ... mesmo os assassinatos agente ficava imaginando quem seria o assassino .. perai se foi afulana foi pq ? ... Hj a mídia ve um casalsinho e acha lindo e isso interfere no resultado e atrapalha o andamento que numa série americana não acontece ...mas eu apoio ainda as novelas como referência cultural pq elas são ... pena que muitas vezes para o negativo ..
    AMEIII O POST !!!

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  4. Perfeito o post, adorei mesmo.
    Mas uma coisa que vale lembrar é que novela os autores eles vão de acordo com o que publico quer. Por mais que tenha uma estória já criada, eles mudam um pouco ali, outro cá pra agradar ao público. Já as séries não são bem assim, ainda mais quando são baseadas nos livros. Não que eu seja noveleira, mas foi de muito tempo que aprendi e por isso que não exijo mais. E infelizmente estamos no momento em que as informações são rápidas, se eles não forem rápidos em menos de um mês a novela perde a audiência, hoje em dia ninguém sabe mais o que significa a palavra "paciência", infelizmente.
    Mas, agradeço a sua visita ao meu blog, volte sempre, tá?
    Beijos

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