à tarde tinha jogo em são januário. o primeiro da minha
vida no estádio. o centésimo e tanto da dele. nossa estreia juntos.
chegamos cedo, cedo. gostava de madrugar. quem aproveita o
dia aproveita a vida, dizia sob o bigode grisalho. no breve caminho até a
entrada do caldeirão, me protegeu dos vendedores de churrasquinho, dos
bebedores de cerveja, dos torcedores mais exaltados. ainda comprou um picolé
que era gelo puro, corante vermelho e alegria.
pouca gente nas arquibancadas, pouca gente nas cadeiras.
multidão pra mim. nunca tinha visto um teatro tão cheio, um cinema tão grande.
cheias, grandes também ficavam as nuvens. enquanto as
sobrancelhas dele, cheias, grandes, se mexiam preocupadas. decidiu
então pular o alambrado, procurar um lugar coberto nas sociais. me assustei com
a ideia. quebrar as regras não era coisa que se ensinasse. mas o que parecia
errado virou certo quando ele estendeu a mão e me ajudou a escalar a grade.
do outro lado, o gosto da vitória.
que veio também com a bola rolando e o gol solitário do
pernambucano – que comemoramos com um
abraço infinito de dois, três segundos.
apito final. volta para casa. o fusca no
meio da torcida bem feliz. estendi a bandeira na janela, e o resto era com o
vento. como se não houvesse amanhã nem depois, o rádio repetia e repetia e
repetia os melhores momentos. só os que aconteceram dentro das quatro linhas,
sob os olhos das câmeras e os ouvidos dos microfones.
bom texto relacionado ao futebol
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