domingo, 8 de julho de 2012

Vamos brincar de índio

Convidado a participar de um evento no Rio de Janeiro, um coral de índios guaranis – formado apenas por jovens e crianças – hospedou-se num hotel no centro da capital, onde ficou por três dias. E acabou chamando a atenção dos funcionários do lugar não só pelo talento musical, mas especialmente pelo comportamento e a cordialidade. A gerente, uma senhora de quase sessenta anos, chegou a lhes pedir desculpas, ao final da estadia, por ter imaginado que eram “selvagens”. Estava, ao contrário, encantada com a harmonia e a alegria do grupo.

Quem me contou o episódio foi uma amiga que trabalhava nesse hotel. Estudante de pedagogia prestes a terminar sua monografia, ela se perguntava como era possível haver meninos e meninas tão bem educados que nunca passaram por uma escola; que jamais sentaram numa daquelas carteiras enfileiradas; que em tempo algum fizeram prova de geografia e matemática.

A resposta é simples: nas últimas décadas, superestimamos um bocado o papel da escola. Jogamos na sala de aula e no professor a responsabilidade que cabe, em maior parte, às famílias. Erramos feio ao separar prematuramente as crianças de seus pais e avós para confiná-las em prédios de onde em tese deveriam sair “educadas”.

Andei pesquisando e descobri que a transmissão de conhecimentos numa aldeia guarani é baseada em valores como o da ação – em que os adultos envolvem crianças e adolescentes em suas atividades, tornando o aprender fazendo o alicerce de sua filosofia – e o do exemplo – dado, sobretudo, pelos velhos, cujas atitudes têm de refletir o ensinamento dos antepassados e o conteúdo das tradições.

Quem sabe esses valores estejam em desuso em nossa tribo. Quem sabe os pais, cada vez mais ocupados em dar o melhor tênis, o melhor celular, o melhor tablet para os filhos, estejam se esquecendo de lhes oferecer  o essencial, aquilo de que mais necessitam principalmente nos primeiros anos de vida: carinho, atenção, cuidado, presença.

Em suma, o respeito a que eles têm direito e de fato merecem – que servirá de ponte segura entre a casa e o mundo, entre a oca e a aldeia.

4 comentários:

  1. Realmente Fábio, os pais tem se preocupado mais em dar aos filhos o que é material mas tem esquecido da alma e da educação dos filhos. E quem trabalha com crianças tem visto isso na atualidade os filhos que mandam nos pais, mal-educados e birrentos.

    ResponderExcluir
  2. O material nesse mundo capitalista é o que realmente importa... Podemos achar essa frase absurda, mas ela é a pura verdade. E essa verdade seria melhor que não existisse. Vivemos na sociedade do espetáculo e contracenamos diariamente; na escola, no trabalho, na faculdade; a nossa condição: emocional, vital e financeira. Estamos inseridos em uma ideologia de consumo tão forte que separamo nos de nossos amores para trabalhar no melhor emprego para ganhar o melhor salário. Essa é a nossa aldeia, onde um mulher deixa suas crianças às 5 horas da manhã e pega inúmeros coletivos para cuidar de uma outra criança: a filha da patroa. Essa é a nossa aldeia, que as crianças são criadas pelas emissoras de Tv ou pela rua, pelo mundo, pela solidão de passar o dia em casa, esperando seus pais chegarem de seus trabalhos.

    Espero sua visita no EDB2012)
    http://escritordebrinquedo.blogspot.com.br/2012/07/imperio-perdido-1.html

    ResponderExcluir
  3. Pura verdade! Atualmente os filhos que mandam nos pais, e os pais são os culpados por darem tudo, menos educação.

    ResponderExcluir
  4. qui imagem gostosa de se ver ainda existem inocentes e devemos fazer ede tudo que eles vivam como agente normal como nois (brancos)

    ResponderExcluir