Rompi
com a novela do João Emanuel Carneiro. Sério. Desde que Romero Rômulo
(Alexandre Nero) e Zé Maria (Tony Ramos) se encontraram à luz de um dia
ensolarado – bem em frente à fundação do ex-vereador – e ainda trocaram um
aperto de mão, perdi o encanto pela Regra
do jogo. E nem adianta a Alcione cantar que o amor será eterno novamente.
Sem chance, Marrom.
O
poeta já dizia: a diferença entre a verdade e a mentira é que a primeira não
precisa fazer sentido. Não por acaso, a regra principal de qualquer jogo de
ficção é a verossimilhança. Também conhecida como coerência (ou lógica)
interna, a “vero” é o temperinho que permite ao espectador engolir a história
que lhe é contada sem se engasgar com os fatos narrados – sem duvidar que estes
realmente possam acontecer, uma vez que eles respeitam as leis do universo
proposto pelo autor.
Pois
essa regrita foi triturada em mais pedaços que aquele xadrez da abertura, quando
os dois chapas de facção promoveram o tal tête-à-tête a céu aberto. Em que mundo
um sujeito como o Romero – que vive da imagem de bom moço, de defensor dos
direitos humanos, de criador de uma instituição que reabilita ex-presidiários –
arriscaria a própria reputação só para levar cinco dedos de prosa com um foragido
da polícia acusado de participar de uma célebre chacina?
Ou:
que organização criminosa tão poderosa é essa (à qual a dupla pertence) que autoriza
um encontro, ou melhor, um furo desses – maior que o provocado pelos fuzis que
ela trafica?
Alguém
dirá: ah! isso é novela, novela é assim mesmo. Ao que este aqui retrucará: não,
amigo, não é assim mesmo. Justamente por ser novela, por ser faz de conta, a
conta tem que fechar muito direitinho. Não pode haver fração que escape à contabilidade
do verossímil. Sob pena de o espectador minimamente atento não acreditar mais
na trama e desistir dela. Como ocorreu comigo.
Já
basta que da novela da vida real a gente não possa desistir tão facilmente. Não
tem controle-remoto para isso.
Vejam
o caso de certo senador tucano e de certo deputado peemedebista (presidente da
Câmara até o fechamento desta edição). Um e outro são filiados a siglas que, em
tese, ocupam espaços antagônicos. A primeira é oposição ao governo; a segunda,
situação. Só que ambas invariavelmente votam a favor das mesmas coisas: doação
de empresas para campanhas eleitorais, flexibilização de leis trabalhistas, diminuição
da maioridade penal – entre outros temas dignos de protagonizar qualquer bom
(?) folhetim.
De
que evidência maior alguns espectadores precisam para perceber que – a despeito
de aparentarem estar em lados opostos – os dois personagens pertencem à mesma
facção? Àquela facção que defende os interesses das grandes corporações, do
capital financeiro, do livre mercado, de tudo que há de mais conservador na
sociedade?
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