Homem
invade escola e mata dois.
É
ler a manchete aí em cima e perguntar as mesmices: de novo, Tio Sam? onde o
assassino comprou os rifles? na padaria ou na farmácia? quantas columbines
ainda serão necessárias para que os americanos entendam de uma vez por todas
que incentivar uma cultura bélica só é bom negócio para os fabricantes de
armas?
Mas
o crime – segurem o queixo – não aconteceu nos Estados Unidos, e sim a sete mil
e tantos quilômetros de lá; na Suécia, para ser exato. Aquele país mais conhecido
pelos chicles explosivos do ABBA e os tiros certeiros do Ibrahimovic. O
criminoso, por sua vez, não usou pistola, espingarda, nem bazuca. Preferiu uma
espada.
O
cenário e a arma inusitados foram o estopim para que atiradores de bobagem espalhados
pela internet – a cada dia um campo mais minado – começassem a disparar as
costumeiras ironias de baixo calibre. O alvo? Qualquer um que veja no belicismo
ianque uma das causas da violência que frequentemente assalta high-schools e
universidades daquele país.
–
Agora quero ver culparem os americanos ou os revólveres por essa tragédia –
metralharam sem piedade os snipers de neurônios, variedade de homicida que sempre
põe à prova meu discurso pacifista. É nessas horas que agradeço a céus e
infernos o fato de o arsenal disponível aqui em casa se restringir a palavras.
Seria
difícil ignorar o gatilho diante de seres incapazes de admitir que: se os
americanos não tivessem acesso tão fácil a armas de fogo e “precisassem” de uma
espada toda vez que sua loucura bélica os impelisse a ocupar uma sala de aula,
isso certamente desencorajaria esse tipo de atitude ou, no mínimo, pouparia
muitas vidas. Comparar o número de vezes em que ocorre um crime desses na
Suécia e nos Estados Unidos é até piada.
–
Piada é o Brasil não ter acesso (legal) a armas de fogo e bater os americanos
em mortes – contra-atacaram os bolsonaros de sinapses.
Estava
demorando para a discussão chegar ao lado de cá do Equador. Infelizmente, no
entanto, não me surpreende que tais criaturas finjam não perceber o desatino de
usar o que aconteceu na terra de Ingmar Bergman – ou o que acontece a todo momento
na de Michael Bay – para falar da violência no Brasil. Que eu saiba, aqui (em
geral) não temos gente invadindo escolas ou universidades para promover
chacinas. Nossa violência é de outra natureza, tem outras origens – intrinsecamente
ligadas a desigualdades sociais históricas.