Que
o horário político é um prato cheio de promessas vazias, qualquer um com mais
de oito bits de memória sabe. Até o leitor daquela revista cujo nome é o verbo
ver na terceira pessoa do imperialismo afirmativo. Ainda assim, mesmo correndo
o risco de ser vencido pela indigestão logo no primeiro turno, não resisto a
uma provinha dessa iguaria típica, servida gratuitamente ao povo brasileiro a
cada dois anos.
Falando
em iguaria, me causou uma azia danada topar com um candidato que, na tentativa
de se tornar mais conhecido, espalhou uma enquete sobre qual o seu doce
favorito para o lanchinho da tarde: pé de moleque, pudim ou goiabada com
queijo? Peraí. Como é que alguém pode sacrificar o voto por um sujeito que não
põe sorvete de flocos ou bolo de rolo nem no top três?
E
eu achando que surreal era o Rio ser governado mais quatro anos pelo Pé Grande.
Grande,
aliás, tem sido o número de candidatos defendendo a família, os bons costumes e
a intervenção do Estado na poupança dos cidadãos. Há quem julgue necessária até
uma ocupação militar nessa região mais vulnerável ao fluxo de (pecados)
capitais. Fuja desses malafaias. Caso contrário, não restará cofrinho livre de confisco
– e o Banco Central se converterá na única coisa, por estas bundas, com alguma
autonomia.
Palavra
bonita essa: autonomia. Quem gosta muito dela é uma das presidenciáveis, famosa
por ser mais flutuante do que o câmbio. Já perdi a conta de quantas vezes a
ex-ministra mudou de ideia sobre o casamento gay nos últimos cinco minutos.
Fidelidade ali só ao coque. Por isso não me surpreende que ela sugira tantos
plebiscitos; e que venha a criar, caso eleita, o Mais Plebiscitos.
Um
deles bem que poderia tratar da famigerada meritocracia. Não tem faltado
candidato por aí enchendo a boca de Cinicol Plax para dizer que o regime de
metas e a remuneração por produtividade melhoraram a educação no estado A e a
saúde no município B. Que tal, então, estender esse modelo de gestão tão
bem-sucedido às assembleias legislativas, à Câmara, ao Senado e ao gabinete do
Executivo?
Nossos
nobres representantes teriam seus salários reduzidos ao piso do funcionalismo
público (ao que ganha um professor ou um médico em início de carreira) e
passariam a receber um bônus – um décimo quarto, por exemplo – se atingissem
determinados índices acordados previamente, se cumprissem uma porcentagem
mínima das promessas feitas por eles mesmos. Seria o Meritocracia para Todos.