Detesto
correntes: aquelas mensagens edificantes, engraçadinhas, esotéricas ou tudo
isso junto e misturado que os amigos (amigos?) insistem em enviar por e-mail ou
compartilhar pelas redes sociais. Não abro, não clico, não leio, não repasso
nem para dez mil inimigos – e não estou aí para os dez anos de azar a que
costumo ser condenado por não entrar na brincadeira.
Devo
esclarecer ainda que minha ojeriza só aumenta quando as ditas-cujas trazem
aqueles textos cafonérrimos e cheios de maiúsculas (sobre Amizade, Amor ou Afins)
atribuídos a autores como Clarice, Pessoa, Verissimo ou Millôr. Coitados. Tanta
noite maldormida, tanta palavra friamente calculada – para de repente o nome
assinar coisas do tipo “o dinheiro compra um
mausoléu, mas não um lugar no céu”.
Ninguém
merece. Ou o Paulo Coelho e olhe lá.
Ditos
os entretantos, vamos aos finalmentes. Resolvi abrir exceção para uma corrente bem-vindíssima
– especialmente num mundo cada vez mais analfabeto – que se espalhou nas
últimas semanas pelo Face: listar “os dez livros
que mais me emocionaram, fizeram refletir ou intrigaram”, os primeiros que me
viessem à cabeça. A ideia era trocar figurinhas literárias. Eu poderia “marcar”
dez amigos para que o vírus (do bem) se propagasse. Ou, se preferisse, deixar
que se sentissem à vontade para continuar ou não o jogo. Meu caso.
Aos
dez mais, então; sem
ordem de preferência.
Eu não
poderia começar minha lista com outro livro que não Meu pé de laranja lima, de José Mauro de Vasconcelos. A morte
trágica de certo gajo foi seguramente uma das primeiras fitas-verdes perdidas
por Zezé, o molequíssimo protagonista, e por este menino que vos escreve.
Menino
que não passou a infância em brancas aventuras. Como esquecer as cores fortes
daquelas novelinhas da coleção Vaga-Lume? O
mistério do cinco estrelas, de Marcos Rey, fica como representante de uma
série repleta de clássicos, como Um
cadáver ouve rádio (do mesmo autor) e O
escaravelho do diabo (de Lúcia Machado de Almeida).
Outra
obra fundamental dos tempos em que o sacolé da vó Marieta dava conta de
qualquer veranico carioca: os quadrinhos do velho Scrooge McDuck. Destaque para
A saga do Tio Patinhas, a graphic novel de Keno Don Rosa que conta
a vida do pato mais rico do mundo. E ai de quem ousar dizer que HQs não valem
uma pataca furada.
Do McDuck
para o Ebenezer, foi um pulo – até Londres. Um
conto de Natal, de Charles Dickens, é quase o melhor fantasma dos Natais
passados.
Talvez só
perca para outra assombração, Brás Cubas, o defunto-autor das Memórias póstumas. Toda vez que
abro o romance do Machado (de Assis), seja no capítulo que for, tenho os pés
puxados pela consciência de que sou um verme da pior espécie – principalmente
quando escrevo.
Falando
em Memórias, como não lembrar as sentimentais de João Miramar, de Oswald
de Andrade? A narrativa fragmentada, a mistura de prosa e poesia, a explosão da
linguagem em tantas direções e sentidos certamente despertaram a semana de arte
moderna que havia em mim.
Semana
que virou mês que virou ano que virou uma vida inteira de alumbramento quando
li um outro chamado João e suas Primeiras
estórias. Impossível navegar esse Guimarães Rosa sem ser inundado por seus
contos-rios, sem ser arrastado por eles até a terceira, quarta, quinta, enésima...
margem da palavra. Um livro particularmente infinito.
Pena o
top ten não ser também infinito. Só há espaço para mais três: o Ensaio sobre a cegueira, de José
Saramago, romance tão incrivelmente visual que eu já o tinha filmado na cachola
muito antes do Fernando Meirelles; A graça
da coisa, ou qualquer happy hour de crônicas da Martha Medeiros, cuja
simplicidade e fluidez do texto ainda hei de alcançar; e Antologia, de Manuel Carlos Mendes Neto, coletânea organizada
por mim mesmo no último período de Letras, reunindo Bandeira, Drummond, Murilo e
João Cabral – porque não dá pra viver sem alguma poesia.
Como não
dá pra viver sem espiar a listinha alheia. Já preparou a sua? Compartilhou? Ou
vai se arriscar à maldição de ler a próxima “saga” de Stephenie Meyer?
A série Vaga-lume era boa demais! Li quase todos! Marcos Rey é o cara! Não pensei em dez, mas a minha lista incluiria "O menino maluquinho", "Marley & eu" (tá passando o filme agora! rs) e "Hamlet". Marcam épocas bem distintas da minha vida.
ResponderExcluirVocê não gosta de correntes? Diz isso por que não me conhece amigo, eu odeio as ditas cujas!
ResponderExcluirEu vi esta no face também, até fiquei com vontade de "brincar" mas deixei pra fazer depois e nem fiz, mas ela é legal né?
Só que tenho bem mais de 10 livros que me emocionaram, chega a ser uma injustiça escolher entre um deles.
http://detudoumpouco28.blogspot.com