Palavra
de especialista: não é só a falta de chuvas e o consequente esvaziamento dos
reservatórios das usinas hidrelétricas que vêm provocando apagões país afora. É
a diminuição da conta de luz. É o aumento do consumo. É mais gente comprando
tevê dilédi e geladeira fosfri, é mais gente ligando ventiladô e
ar-condicionado ispriti, é mais gente acessando Feicebuque e Intúbio do próprio
tablete.
Como
não é possível amarrar todo esse povo no poste com trava de bicicleta para que
não gaste tanta energia, a solução seria – ainda segundo o especialista –
reajustar a conta de luz acima da inflação e dobrar o IPI da linha branca. Assim
a venda de refrigeradores cairia e o risco de blecaute, especialmente durante a
Copa, tenderia a zero. A nova classecê nem sentiria muito a diferença: afinal,
sempre gelou sua cerva no bom e velho isoporzinho.
O
governo, se de fato fosse responsável, não pararia por aí – continua o
especialista. Outra medida a ser tomada contra esse excesso de pessoal exercendo
o direito de ir e vir, o que só faz as cidades desperdiçarem mais megawatts, seria
o aumento imediato do preço das passagens. De todas as passagens. Do trem que descarrila ao avião que atrasa. Um
acréscimo de cem por cento já amenizaria a crise. No dia seguinte, o metrô não
estaria mais tão superlotado, o saguão do aeroporto deixaria de ser a
rodoviária em que se transformou e o sistema de refrigeração de ambos seria menos
exigido.
A
Aneel e os senhores passageiros com destino a Nova York agradeceriam penhorados.
Eu
agradeceria também, o especialista se empolga, se tirassem pelo menos um terço
dos automóveis das ruas. A começar pelos das domésticas e dos porteiros.
Acredita que até a babá do Mauricinho – que mal completou o ensino médio e já
está pensando em faculdade – tirou carteira de motorista e deu entrada num
popular? Carro para todos não é ecologicamente sustentável: só gera mais
congestionamento, mais poluição atmosférica, mais aquecimento global, mais
consumo de energia. Necessariamente nessa ordem. Onde vamos parar?
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