O
que você quer ganhar de Natal?
Perguntinha
mais batida que sino de Belém em tempo de Papai Noel. Eu sei. Mas vale a
rabanada pensar nela – e não na resposta – nem que seja por um instante. Afinal,
só o fato de ouvi-la já é um presentaço: a prova de que não estamos sozinhos no
shopping (alguém está?), de que não sobramos
no amigo oculto, de que uma criatura que não nós mesmos ou o Bom Velhinho se
preocupa conosco a ponto de cogitar nos dar ao menos uma lembrancinha.
Temos
andado – temos corrido os cem metros rasos, isso sim – tão focados e sufocados
nos smartphones, tablets, games, tevês, cedês, devedês, sandálias, sapatos,
perfumes, camisas, vestidos, bijus, brinquedos, livros, chocolates, panetones e
outros mimos amarráveis com laço de fita, que mal conseguimos escutar o ho! ho!
ho! de quem se dispõe a descer de sua chaminé para nos conceder duas castanhas
de atenção.
Culpa
do excesso de decibéis (jingoubéis?) da vida muderna, aparentemente em seu volume máximo: jingle all the way. De repente, é como se a
Simone, acompanhada dos Canarinhos de Petrópolis, descesse de helicóptero bem
no meio do Maraca e começasse a repetir discoarranhadamente “então é Natal e
Ano Novo também” em nossos pobres aparelhos auriculares.
Parem
o trenó que eu quero descer.
Pois
desçamos dele por um instante: um instante e uma rabanada. Findo o primeiro e
digerida a segunda – não necessariamente nessa ordem –, pensemos na resposta àquela
perguntinha do início com cuidado, sem o corre-corre das últimas compras. Talvez
eu pedisse uma realidade menos barulhenta, habitada por políticos menos
odoricos, religiosos menos felicianos, celebridades menos bebebestas,
manifestantes menos black blocs, jovens (e não tão jovens) menos selfies; gente,
enfim, menos surdamente exibicionista, menos obcecada por uma vitrine, menos
disposta a falar, falar, falar e impor sua voz a qualquer custo.
Velho se esse espirito se desenvolvesse nós teriamos com certeza um mundo melhor!!
ResponderExcluirMuito belo texto.
ResponderExcluirDe fato a magia do natal se perdeu a muito tempo, e hoje o que importa são os bens materiais.
Infelizmente.
Tudo isso começa na gente antes do outro... Não é mesmo?!
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