domingo, 8 de dezembro de 2013

Grandes atores

Faz quase uma semana que deixei Jasmine falando sozinha no banco da praça, e ainda estou impregnado de sua fragrância azul, de seus olhos borrados de rímel e desilusão, olhos que exalavam a condição de eterna órfã em busca de um mundo adotivo. Que nem precisava ser tão grande assim – bastava caber numa Louis Vuitton.

Cate Blanchett só não leva o Oscar se o Daniel Day-Lewis resolver incorporar a Meryl Streep num filme do Spielberg com roteiro do Woody Allen.

A propósito, o roteiro de Allen: cheira ou não, mesmo que de leve, aos rocamboles de coincidências que (nem sempre) saboreamos no horário das nove? Não bastasse a irmã de Jasmine (Sally Hawkins) esbarrar com a traição do cunhado naquela cidadezinha de uma rua só que é Nova York, seu ex (Andrew Dice Clay) ainda surge no ato final – no meio de outra cidadezinha de uma rua só que é São Francisco – apenas para botar água no champanhe da protagonista.

Nem vou lembrar o fato de Jasmine, disposta a renascer das cinzas como uma nova Candice Olson (Google nela, gente), ter encontrado um príncipe tão encantado, tão inacreditavelmente sob medida, que procurava alguém justamente para – tchan tchan tchan tchan – decorar sua nada humilde residência.

É nessas horas que fica mais fácil se deixar adotar por um mundo que não viaja de primeira classe e sofre até com epidemia de zumbis, como o de The walking dead. Taí outra fragrância – fragrância não, odor – da qual também estive impregnado, a de carne humana apodrecendo, desde o episódio em que o Governador (David Morrissey) enfim invadiu o presídio no qual (sobre)viviam Rick (Andrew Lincoln) e os seus.

Poucas vezes assisti a segundos tão tensos – lindamente tensos – quanto os que antecederam a morte de Hershel (Scott Wilson). Jamais vou esquecer seu olhar doce, seu sorriso discreto, extraídos de um rosto já fatigado de tantas perdas. Com rara delicadeza, Wilson mostrou as vísceras de seu personagem, e só não terá um Emmy na sua estante em breve se o Apocalipse de fato tomar conta do planeta.

Ou se o Daniel Day-Lewis – sempre ele – cismar de fazer uma pontinha de morto-vivo nos próximos capítulos do seriado.

2 comentários:

  1. Muito bom...E o Hershel realmente soube mostrar toda a sua face de aceitabilidade e ver que o Rick falhou em tentar salvá-lo...

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  2. Estou tentando arrumar um tempinho numa tarde dessas para ver Blue Jasmine...

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