Não
se preocupe. Não vou refalar das manifestações de junho, do julgamento do
mensalão, das sandices do Feliciano, do sumiço do Amarildo, do Big Brother do
Obama, da eleição do papa, da morte do Mandela ou do tapetão do futebol. Essas
e outras eu deixo pro Sérgio Chapelin e a Glória Maria.
A
ideia é, sim, revisitar o ano velho, mas partindo de pérolas publicadas por mim
nas redes sociais nos últimos doze meses. Você pode achar isso preguiça do
cronista, que assim se livra de escrever um texto integralmente original. E
acha certo. Tenho andado com mais lombeira que o Macunaíma de férias em
Salvador às cinco da manhã.
Só
que não se trata apenas de evitar a fadiga: desejo que todos, especialmente aqueles
que não me acompanham no Face e no Twitter, tenham a oportunidade de experimentar
alguns quitutes de genialidade produzidos por estes humildes neurônios que a
terra um dia há de degustar.
Não
precisa agradecer. Faço isso de coração escancarado, sem interesse, talvez
ainda tocado pelo espírito de Natal. Generosidade pura. Cristalina. Tão imaculada
quanto as fraldas do menino Jesus.
A primeiríssima pílula vem lá do iniciozinho de janeiro, e
serve para todo fim de réveillon (caso seu fígado ainda esteja funcionando): “Se
comi ou se bebi, o importante é que às festas eu sobrevivi”. Falando em
sobreviver, quase fiz a passagem no dia 30 do mesmo mês, ao descobrir que
mussarela com dois esses era tão verdadeira quanto as boas intenções do Marco
Feliciano: “Muçarela, com cê e cedilha, pode até ser legal. Mas é imoral. E
engorda”.
O pastor, aliás, rendeu em agosto uma enquetezinha básica (e
muitas curtidas de apoio), a propósito da lei contra lixo nas ruas que entrou
em vigor aqui no Rio: “Só pra esclarecer: se eu jogo o Marco Feliciano pela
janela do último andar de um arranha-céu, sou preso por homicídio ou levo multa
de 157 reais?”.
Outra enquete de sucesso, ainda em agosto, provou que eu não
estava sozinho na categoria “ouvir vozes do aquém”: “Serei eu o único sujeito
na face da Terra a ler ‘op. cit.’ com a voz do Didi Mocó dizendo ‘ô, psit’?”.
Muitos deixaram a poltrona e admitiram sofrer do mesmo distúrbio. Obrigado aos
que tiveram tamanha coragem. Tâmu junto!
Por sinal, estamos juntos também na incapacidade de executar
certas tarefas domésticas: “Dobrar lençóis de elástico é uma arte da qual
jamais serei um virtuose”. Essa ficha caiu (no samba) em fevereiro, entre confetes,
serpentinas e uma dorzita de cotovelo na altura do estômago: “Escutar o vizinho
planejando a próxima viagem à Europa me trouxe uma certeza: inveja não mata;
mas dá uma gastrite...”.
Felizmente, nem tudo são cravos e espinhas. As águas de março
fecharam o verão com promessa de obra-prima – “Ainda hei de escrever uma peça chamada Monólogos do hífen” – e justiça musical
– “Cantor sertanejo é detido após polícia apreender em seu
apartamento duas armas, munição, maconha e meia dúzia de novas canções” –, além
de uma certeza: “o carioca é, antes de tudo, um anfíbio”.
Abril,
lembrando bem, não teve meia palavra digna de epígrafe. Maio, por sua vez, só
foi digno de nota (dez) graças aos presentes e à piadinha de aniversário: “Trinta
e três anos: só espero que não me crucifiquem por ter chegado tão longe”. Outro
níver que rendeu uma bobice foi o do Franz, em julho: “Parabéns,
Kafka, pelos 130 anos: você é o maior barato”.
Para não dizerem que não falei das festas juninas: e aquele
dia em que o Brasil inteiro foi pra rua? as novelas das seis e das sete não
foram exibidas? o Jornal Nacional se
estendeu mais que as trilogias do Peter Jackson? “Quanto vandalismo: derrubaram
até a grade da Globo”.
Voltando a fevereiro (e ao início do século XX): “Li no UOL que Lado a lado chegará ao último capítulo
com o pior ibope da história no horário das seis. É, foi-se o tempo em que o
brasileiro entendia de novela”. Correu tudo tão esquisito este ano que os
americanos – bons em novela como nós em beisebol – deram um merecidíssimo Emmy
para a trama estrelada por Camila Pitanga e Lázaro Ramos. Valeu novembro.
Penúltimo
mês do ano, Brasileirão (quase) decidido, Cruzeiro folgado na tabela, e a confirmação
de uma previsão lá de agosto: “Os botafoguenses que me
desculpem: mas não rola um campeão brasileiro com Guaraviton estampado na
camisa”.
Setembro: enquanto a turma da Estrela Solitária ainda
acreditava no título, os fãs de uma estrelinha adolescente fincavam bandeira na
porta da Sapucaí a fim de esperar o ídolo, ainda que isso significasse
abandonar casa, escola e bom senso. ECA neles!
“Não basta proibir os fãs do Justin Bieber de acampar mais de um mês antes do
show (sic): tem que botar essa turma pra prestar serviço comunitário aqui em
casa. Trabalho não falta”.
Também não faltou uma certeza, compartilhada com o mundo em
outubro: “Se meu salário fosse atualizado tanto quanto as definições de vírus
do Avast, a esta hora eu estaria em Paris”.
Ainda não estive na cidade dos brioches – mas estive em
novembro. Cheguei ao mês onze como um walking dead (mais dead do que walking). Parecido
com o leitor que bravamente chegou até aqui. Eu acordando toda manhã “com a
sensação de que sair pro trabalho não ia agregar valor ao meu camarote”, exausto
da rotina aditivada: “Dona Vida tem andado tão agitada que, quando precisa
desacelerar, toma um Red Bull”.
Por isso, bastou dezembro dar o ar do panetone para eu varrer
as últimas páginas da folhinha: “Botando a vassoura atrás da porta pra ver se
2013 se manca e toma seu rumo”.
Já entendi o recado da
piaçava e estou tomando meu... champanhe. Me despeço desejando que o ano da
Copa nos traga não apenas uma taça, mas os infalíveis votos de saúde, paz e
prosperidade – requisitos de felicidade que vão muito além de um mundial de
futebol. Muito além dos vinte centavos de uma bola na rede e de (mais) uma
estrela no peito. Tim-tim!