Pobre
do meu queixo: teve de fazer um pouso de emergência há alguns dias e acabou
danificando toda a lataria. Felizmente, a queda não comprometeu os circuitos
internos e logo, logo ele estará prontinho para novas aterrissagens forçadas –
dessas que só este mundo com alma, fuça e madeixas de Galeão Cumbica é capaz de
provocar.
O
acidente, desta vez, se deu graças a um vídeo divulgado pela companhia aérea
Virgin America. Um filmete de cinco minutos que transforma as necessárias instruções
de segurança – como a clássica
em-caso-de-despressurização-da-cabine-máscaras-cairão-automaticamente... – num
número musical digno de um espetáculo da Broadway. Aeromoças e demais tripulantes
cantam, dançam, saltam, piruetam, fazem corinho e coreografia até com
insuspeitos coletes salva-vidas. Arrasam no rap, arriscam passos de street
dance e por pouco não chegam ao moonwalk. Praticamente um remix de Glee com Apertem os cintos... O piloto sumiu!
A
justificativa da empresa para o investimento hollywoodiano no clipe – além da
óbvia promoção da marca – é impedir que o passageiro, entediado com as
orientações de sempre, cochile a ponto de babar nos estofados e acabe não
prestando a devida atenção a informações essenciais na hora de correr até as
saídas de emergência.
Parem
as turbinas da aeronave que eu quero descer. Quer dizer que agora até
basiquíssimas instruções de segurança precisam ser apresentadas de maneira
“divertidinha” para atrair olhos, ouvidos e neurônios alheios? Que me perdoem
os fãs e seguidores do fantástico show da vida: mas hoje tudo – absolutamente
tudo – tem de ser entretenimento?
Do
jeito que as coisas vão, logo professores só ensinarão orações subordinadas e
equações do segundo grau se tiverem tanto talento para stand-up quanto um transgênico de Adnet com Porchat; médicos só passarão
suas prescrições se bailarem a Macarena com duas melancias penduradas no
estetoscópio; jornalistas só comentarão as taxas de juros se as entremearem com
as últimas da novela; juízes só lerão suas sentenças se derem uma palhinha –
entre um inciso e outro – do Sinatra que escondem sob a toga.
Já
estou até vendo os manuais de geladeira do futuro, todos escritos à moda Agatha
Christie, a fim de deixarem o leitor em suspense até a derradeira especificação
técnica. Conseguirá Miss Marple solucionar o mistério dos alimentos
descongelados? Que fará Hercule Poirot diante do estranho caso da porta que não
veda? Serão os dois grandes detetives, em parceria inédita, capazes de decifrar
o maior de todos os enigmas: como remover as prateleiras para limpeza?
Imaginem
as filas de banco, então. Divididas entre os setores vip e vipão, como naqueles
teatros com nome de cartão de crédito. Repletas de garçons atrapalhando a visão
do palco ao oferecerem bolinhos de bacalhau a preço de salmão com azeite
trufado. Superlotadas de aposentados esperando a vez de receber seus
caraminguados – enquanto funcionários os distraem com acrobacias de fazer
qualquer Cirque du Soleil parecer aula de ginástica da terceira idade.
Boa harmonia no seu texto da história e em todo.
ResponderExcluirÉ isso mesmo... vejo bastante isso nas escolas... o professor que vai com a intenção de "apenas" passar conhecimento, sofrerá... ele terá que ser "legal" também... fazer músicas para os alunos decorarem as formulas, contar piadas para descontrair, fazer brincadeiras enquanto ensina, e assim vai... praticamente um artista... rsrs
ResponderExcluirkkkkkkk sabe que viajei no seu texto????!!! Fiquei imaginando as filas de bando e até o manual.
ResponderExcluirAdorei muito o seu texto.
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