Poetas
antigos diziam que navegar é preciso, viver não é preciso. Frase bonita, para
alguns gloriosa. Mas prefiro minha versão: navegar é preciso porque viver é.
Navegar como sinônimo de viajar. Viajar de carro, ônibus ou avião; de livro,
filme ou novela; de conversa fiada com os amigos ou papo sério com os filhos –
até com o espelho tá valendo. O negócio é sair do lugar, de si, conhecer o
outro, ir além do horizonte. É não ficar guardando lugar pra morte. É subir na
garupa da vida e só parar pras fotos.
Toda
essa volta ao mundo em mais de oitenta palavras é só pretexto pra eu fazer
escala no que muita gente já sabe: adoro viajar. Não só sem sair do lugar – o
que também acho superbacana etcétera e tal –, mas especialmente saindo dele.
Pra trocar uma ideia com a Bri em Búzios, tomar uns goles de sulfurosa no sul
de Minas, degustar churrascos e chocolates na Serra Gaúcha, acelerar o buggy e
o bronzeamento nas praias do Nordeste, visitar princesas e camundongos em Orlando.
Os
destinos podem ser novos ou velhos – todos sempre guardam um quê de primeiríssima
vez se soubermos olhar com atenção. No caso dos velhos, o (re)encontro costuma
ser ainda mais surpreendente e prazeroso quando estamos na companhia de um
marinheiro de primeira viagem. Como é bom ver de perto o rosto de quem, apenas naquele
momento, de repente descobre o Corcovado ao descer do bondinho, desvenda Machu
Picchu ao abrir a Porta do Sol, devassa a Times Square ao sair do metrô ou desnuda
Paris ao atingir o alto da Torre Eiffel.
É
quase como recuperar através dos olhos – e, consequentemente, da alma – do
outro o flash do instante em que defloramos aquela vista, lá em mil novecentos
e lembrança. Saudade que me dá, por exemplo, do segundo em que a Fernanda entrou
na Main Street, a rua principal do Magic Kingdom, e se deparou com o famigerado
castelo da Cinderela, que antes só existia pra ela nos folhetos turísticos. Senti
ali uma espécie de encanto terceirizado, um tipo de gozo por transferência. Sem
brincadeira.
(Sintoma
típico de um cérebro em constante turbulência, talvez agravada pelos efeitos
colaterais do jet lag e do amendoim barato servido no avião. Vai saber.)
Falando
em avião, tenho considerado seriamente a possibilidade de decolar pros States
no próximo ano e – adivinha – aterrissar novamente na Flórida. Só que, desta
vez, pelo menos por enquanto, não há ninguém na trupe capaz de proporcionar ao
meu coraçãozito aquele nirvana por delegação. Todos são marujos de segunda ou
terceira viagem. Cá entre nós, ainda não me conformei nem um pouquinho com isso.
Sigo em busca, portanto, de donzelas de Mickey interessadas.
De
moços e moçoilas – não importa a idade – dispostos a desafiar piratas,
fantasmas e múmias; a enfrentar aliens, dinossauros e terminators; a encarar bruxos,
decepticons e duendes verdes; a planar de asa-delta e foguete; a viajar do
Paleolítico à Tomorrowland, do México ao Canadá (com parada obrigatória em
Paris e Liverpool); a experimentar as minusculices de uma vida de inseto; a
escalar o Everest só pra correr da Criatura das Neves; a estar na chuva – e
noutros splashs – pra se molhar; a ter só pensamentos felizes do primeiro zip-a-dee-doo-dah
(lá pelas sete e pouco da matina) ao último sininho de fogos de artifício.
Muito boa sua crônica, é com hoje em dia viajar já perdeu seu lugar, conversar não é como a mesma e as pessoas estão cada vez mais conectadas e sozinha ao mesmo tempo. As pessoas apreciam tudo isso do texto e os lugares, porem não estão dispostos a fazer de suas vidas melhores e isso também inclui a mim e todos que nós esquecermos que viajar é tão bom, porem fazemos nada disso.
ResponderExcluirExcelente crônica. Amo viajar, quando tenho tempo e dinheiro sempre falta companhia. Todos estão tão ocupados. Difícil!
ResponderExcluirFazendo uma pequena brincadeira com o título: atualmente procuro uma amigo com piscina para amizade sincera rs
Bjos