Eu
podia ter ficado em casa vendo a Sessão
da tarde e zapeando aquela pipoquinha de micro-ondas nos intervalos. Esticadão no sofá. Mas não: resolvi encarar o dia nublado, com mais de oitenta por cento de chance de chuva e canivete, para ver um filme do Festival do Rio. Unzinho pelo menos.
Não
o novo do Woody Allen, do François Ozon ou do maior cineasta iraniano de todos
os tempos da última mostra em Cannes, que esses têm telona cativa nas melhores
salas do ramo. A graça dos festivais, ao contrário, está em garimpar as fitas
que jamais darão o ar dos créditos nem em teaser de retrospectiva do cinema
finlandês.
O
escolhido da vez foi um alemão de 72 minutos cujo título original,
impronunciável, encobria um singelo A
gatinha esquisita. Não, não era uma cinebiografia da Angela Merkel, nem um
documentário sobre códigos secretos usados por nazistas durante a Segunda
Guerra. Era tão somente, segundo a sinopse, “uma espirituosa fábula sobre os
encantos que a rotina pode reservar”.
E
mais não sei.
Pois
não assisti nem a cinco minutos do chucrute. Motivo: falta de legendas. Depois
de sobreviver ao perfumadíssimo saguão do velho Espaçunibanco, quase tão
salubre quanto a Câmara de Vereadores da cidade, eu e mais dezenas de cinéfilos
– além dos organizadores do festival – descobrimos que a película não tinha
sequer um miado traduzido.
Resultado:
baixou o black bloc na plateia. Uma facção passou a exigir desesperadamente a
interrupção da sessão. Olelê, olalá, se o filme não parar, o Terceiro Reich vai
bombar. Outra turma – as senhoras de laquê – preferiu reivindicar um loiro alto,
espadaúdo, que fizesse dublagem simultânea.
Um
senhorzinho com jeito de tuberculoso e meio surdo – tossia que nem poeta
romântico e reagia a tudo com delay – decidiu se manifestar, aos berros, a
favor da devolução do dinheiro. Só que: cerca de meio minuto após avisarem que
o longa seria exibido mesmo sem legendas e os que desejassem poderiam reaver o
valor do ingresso na bilheteria.
Vaia no
vovô, coitado. (Felizmente, a cena foi menos trágica que cômica, graças às
risadas, em maior metragem que os apupos.)
Eu acabei seguindo a massa – mais discreta, conservadora –, que preferiu não gastar o alemão na frente de estranhos, ainda que com a luz apagada. Se fiquei frustrado? Nem tanto. Afinal, não é todo dia que a gente entra no cinema às escuras (duplo sentido, por favor) e sai dele com a crônica semanal garantida e o seu dinheiro de volta.
haha que cômico.
ResponderExcluirisso nunca acontece comigo.
Que confusão....
ResponderExcluirTexto bem planejado e elaborado!!!
rsrsrsrsrs assistir filme estrangeiro sem legenda não dá!
ResponderExcluirSe não fosse a tal falta de legenda não teríamos lido um post tão bom! E o tio que "tossia que nem poeta romântico e reagia a tudo com delay" merece um roteiro, ainda que em curta-metragem! Risos!!!!
ResponderExcluirhahahah
ResponderExcluirQue situação, hein!
Ainda se fosse alguma comédia, do tipo Mr. Bean, mas não. Aí não tem jeito mesmo. Foi a primeira vez que ouvi falar nesse tipo de situação...rsrs Da próxima vez que for chover canivete, é sinal para ficar em casa, rsrs.
http://meupassatemponodiaadia.blogspot.com.br/2013/09/mudando-cara-dos-moveis.html
Abçs
E o filme? foi bom? rsrsrs
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