Dias
melhores aqueles em que o meme do momento era a Luiza, que todos sabiam estar –
muito bem, aliás – no Canadá. Hoje, infelizmente, o hit é outro, cadê o Amarildo,
sujeito que a câmera da UPP (oh!) não viu e o GPS da polícia (oh!) não rastreou;
pedreiro que, ironicamente, virou pedra no sapato das otoridades.
Pena
que esse Amarildo, especialmente para sua família, não deva mais aparecer, a
não ser o frio, triste e (não) tão repentino corpo, que a qualquer minuto há de
surgir por aí – na voz aveludada de um samurai do horário nobre ou no celular
pré-pago de um ninja de última hora – descansando sob a bênção de urubus tripulados.
Mas
ainda há outros tantos Amarildos que podem e devem ser encontrados, que podem e
devem ser resgatados da cela em que foram esquecidos – quando não abandonados –,
graças à cegueira seletiva, ao silêncio conveniente, à negligência fácil, à
cumplicidade cínica de cada um de nós.
O
Amarildo que sumiu no banco da escola, chegando ao fim da adolescência mal
sabendo ler e escrever; o Amarildo que sumiu na fila do hospital aguardando
senha, e ainda voltou para casa sem número e atendimento; o Amarildo que sumiu
no vagão do trem ou metrô superlotado e virou sardinha nas estatísticas; o
Amarildo que sumiu na poeira do sertão à espera de milagre ou água encanada
para irrigar sua lavoura; o Amarildo que sumiu
sob o viaduto enquanto era tragado pelo crack; o Amarildo que sumiu na calçada, na esquina, no sinal quando nos desviamos
dele ou fechamos o vidro do carro; os Amarildos que...
... continuam sumindo diariamente, escorrendo pelos ralos da indiferença
– sob nossos narizes de silicone, anestesiados de tanto botox midiático – até
virarem apenas números nos ibopes e nas eleições, quando recebem um indulto
para escolher o próximo carcereiro e festejar a democracia.
Estão
todos aí, perambulando de cova em cova feito walking deads, como que cemitérios
ambulantes de restos mortais, mausoléus destituídos de passado e futuro,
cadáveres cujo perfume muitas vezes não sentimos porque nosso olfato só sai de
casa de helicóptero.
Verdade
seja dita: não é difícil encontrá-los. Basta ligarmos a câmera e o GPS do smartphone
que carregamos – diz o clichê – do lado esquerdo do peito.
Assunto bem pertinente Fábio. A indiferença gritas nas ruas, hospitais, escolas e na vizinhança. Parabéns por seu projeto , muito propício o espaço e bastante acolhedor . Acabo de me tornar seu seguidor.Se puder também me dar uma força curtindo minha fan page, aqui está:
ResponderExcluirFan Page: https://www.facebook.com/oivalfnocinema
www.cineprise.com.br
Muito obrigado e novamente meus parabéns!!!
As vezes nós mesmos podemos ser o Amarildo ;)
ResponderExcluirAs coisas quando parecem que vão mudar dão sinais de que não sairão da inércia
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