Já
era tarde, tarde. O relógio da cozinha ardia 12 horas e 37 minutos. Trinta e
oito. Eu tinha que estar na escola às treze. Saí tão apressado que esqueci de
fechar o gás. Não voltei. Chamei o elevador e desci as escadas. Boa tarde, boa
tarde – o porteiro mal me reconheceu. Bati o portão. Corri até o ponto de
ônibus.
Um
homem falava no celular: tem alguma coisa acontecendo com a Alice. Há duas ou
três semanas ela não sai de casa. Também não tenho visto o François nem o
menino. Quero ver meu sobrinho. Acho que estão escondendo alguma coisa de mim. Vou
lá agora tirar essa história a limpo.
O
sujeito tomou o primeiro táxi. Tomei o segundo: siga aquele carro. (Sempre quis
dizer isso.) Quatro, cinco ruas depois, paramos diante de um casarão que eu
jurava abandonado. Tocamos a campainha. Fomos recebidos por uma mulher que
fazia jus ao nome. Transpirava um ar de menina apesar das primeiras rugas.
Uma
brisa descoloria seus olhos verdes.
O
homem perguntou do menino. Só queria saber do sobrinho. Onde ele está? O que
você fez com o garoto? Alice respondeu com uma xícara de chá. Deixei os dois e
subi até o andar dos quartos. O do menino tinha brinquedos espalhados, o
Playstation ligado, aquela musiquinha do Super Mario.
O
dela estava com a porta entreaberta: alguém tomava banho. A cama toda
desarrumada. Uma bolsa de viagem sobre os lençóis – manchados de vermelho. Um
cheiro de carne podre vinha da sacola. Me aproximei como as moscas. Puxei o
zíper com cuidado; ainda assim, fez um ruído de parar o mundo.
O
chuveiro parou.
O
relógio ardia 12 horas e 38 minutos. Trinta e nove. Eu tinha que estar na
escola às treze. Saí tão apressado que não me despedi de Alice. Esqueci até de
fechar o gás. Não voltei. Chamei o elevador e desci as escadas. Boa tarde, boa
tarde – o porteiro mal me reconheceu. Bati o portão. Corri até o ponto de
ônibus.
Um
homem falando no celular tomou o primeiro táxi. E eu tomei o 226, que veio logo
em seguida. Já era tarde, tarde.
Olá Fabio.
ResponderExcluirEste é um belo texto, ou uma bela estória. Não sei. Mas confesso que não entendi o significado dela, porém, adorei as palavras usadas e a imaginação que tive ao ler. Não entendi o que você quis passar para nós, leitores, mas, mesmo assim eu gostei do texto...
Forte abraço!
Opiniões e um Mundo,
opinializacao.blogspot.com.br
Amei seu blog, é a primeira de muitas vezes que o visito. E parabéns pelo conto. Muito bem produzido.
ResponderExcluirSobre textos o seu blog é o melhor que conheço, parabéns!
ResponderExcluiruauuu... quanta arte!
ResponderExcluirhá muito não tinha uma leitura tão gostosa, um deleite!
Simplesmente encantei com sua forma de escrever e sua estória!
Parabéns...
Retribuindo a visitinha e seguindo.
Abraços
http://mmelofazminhacabeca.blogspot.com.br/2013/04/a-estreia-de-o-homem-de-ferro-3.html