Sabe aquele filme que você nunca viu inteirinho, do orgulhosamente-apresenta
ao the-end, mas – vira e mexe e zapeia – assiste a uma cena aqui, escuta um
diálogo acolá, invariável e inacreditavelmente os mesmos? Contatos imediatos do terceiro grau e eu. Caso típico de contato
nada imediato e, no máximo, de primeiro grau.
Vez ou outra eu esbarrava no trecho em que o garotinho é levado pelos ETs:
elezinho na janela exclamando ingenuamente “Toys!”, maravilhado com os efeitos
especiais dos visitantes; a enceradeira e outros utensílios incorporando o
poltergeist; as luzes invadindo aquela-casa-no-meio-do-nada por todos os poros,
da fechadura à lareira; o desespero da mãe ao não conseguir evitar o sequestro do
filho. Arrepios provocados sem solavancos sonoros ou explosões digitais. Bons
tempos.
Tão bons quanto a última semana, quando finalmente tive a chance de
percorrer o clássico spielberguiano do Deserto de Sonora, no México, à Montanha
do Diabo, nos Estados Unidos. Como o jovem Roy Neary (interpretado por Richard
Dreyfuss), resolvi enfim me deixar abduzir pela nave-mãe. E a viagem valeu a
pena.
A começar pela sequência na qual Roy está em seu carro e acena para que
um apressadinho (só vemos os faróis) o ultrapasse. Instantes depois, outro “apressadinho”
surge no retrovisor e também o ultrapassa; só que, desta vez, os “faróis” sobrevoam o automóvel. Ainda o sacodem
um bocado, bronzeiam o rapaz com o brilho de trocentos megawatts e, por fim, somem
no céu, numa mistura precisa de (muita) luz, câmera, ação e humor – a lanterna que
se acende ao final da “experiência”, assustando o herói.
Falando em céu, atenção a cada quadro em que aparece sozinho,
aparentemente inofensivo e estrelado, ligando uma cena a outra. “Watch the
skies”, diz um personagem a certa altura. Há sempre um pontinho bem suspeito
riscando o firmamento, atravessando a tela. E mais coisas entre céu e filme do
que supõe nossa vã ufologia. Nada ali é coincidência.
O épico Os dez mandamentos na
tevê, o monte pelo qual os doze “escolhidos” ficam obcecados, o fato de serem doze escolhidos, os pombos – elementos
que não dão o ar da graça por acaso ou milagre; entrelinhas bíblicas que transbordam
do roteiro e nos conduzem até o desfecho antológico.
A sequência da Revelação – na qual os homenzinhos cinzentos descem de
sua nave technicolor ao som de notas musicais tão encantatórias quanto as do
flautista de Hamelin, talvez por isso apropriadíssimas para o derradeiro e mais
importante contato. Aqui as palavras soam desnecessárias e, inteligentemente, são
em sua maioria descartadas. O que os olhos veem o coração sente.
Sente que acabamos de travar um contato além do imediato e da
imaginação – um contato de enésimo grau – com o mais puro cinema. A arte dos
que parecem já ter um dia embarcado (para uma galáxia muito, muito distante?) e
voltado para contar a história.
não assisti esse filme.
ResponderExcluirTbm nunca vi esse filme inteiro. E gostei tanto da frase sobre a vã ufologia q vou me utilizar de sua essência no bacefook, depois de modificar a lataria. Vc não liga, né? Vou colocar link do seu texto pra qualquer eventual interessado conferir donde veio o original...
ResponderExcluirNão vi esse filme tambem
ResponderExcluirhttp://nipponpress.blogspot.com/2012/12/fortes-nevascas-atingem-regioes.html