Deu vontade de falar da Vó. Deu saudade daqueles domingos
na casa dela, onde a única regra era brincar sem relógios tiquetaqueando:
correr descalço o dia inteiro no quintal, sujar as mãos na terra do jardim, não
sair de lá sem levar na mochila sacolés, chocolates e os pastéis de queijo mais
gostosos de toda a infância.
Saudade também da hora do almoço, da cozinha de azulejos
azuis, da mesa em que não cabiam todas as travessas e travessuras, da Dona Mari
carinhosamente nos intimando a provar e repetir umas duzentas vezes cada prato,
do bolinho de bacalhau à salada de frutas. Afinal, neto nenhum seu podia ser
magrinho. O que as vós da vizinhança iam pensar?
Saudade até da cara (quase) feia que ela fazia quando nos
esquecíamos de pedir sua bênção ou um beijinho de tchau. Do seu olhar levemente
preocupado quando iniciávamos a Vigésima Sexta Guerra Mundial das Almofadas e
usávamos como trampolim o enorme sofá da sala – que fazia a curva do outro lado da rua.
Saudade do zelo com que cuidava das
camisas do Vô Maneco, do capricho com que pregava cada botão que tentasse
escapar.
Saudade do banho de mangueira no verão, do
cheiro do café no frio, do barulho da máquina de costura, da cor da tinta com
que pintava o cabelo, do sorriso que teimava em não aparecer nas fotografias,
do jeitinho delicadamente severo de convencer Mãe a nos perdoar... pela
Vigésima Sétima Guerra Mundial das Almofadas.
Saudade da saudade que Vó irradiava quando nos via
abrindo o portão felizes da vida – prestes a provar mais um pedacinho do
céu.
Isso sim é o paraíso, e como eu tenho saudade dele. Já não vivo mais essas alegrias.
ResponderExcluirVó! A minha mora longe, mas não deixo de ir visitá-la pelo menos uma vez por ano! e matar a saudade de como era bom ser criança, eita que bateu uma saudadezinha da minha!!!
ResponderExcluirTiago Guillen
Nossa profundo...... Esse texto pode emocionar muita gente. Eu não me emociono porque a que morreu eu pouco lembro sabia que tinha muita comida ,porem tinha pouca idade para lembrar de udo e o tempo passou e a outra eu vejo de vez em quando.... Mas vó é vó...
ResponderExcluirbons tempo...
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