Bancar
o Carrasco por um dia e promover o reencontro do Félix com um velho amigo de
infância repercutiu mais do que eu imaginava. Não porque o texto estivesse
particularmente inspirado (até estava, vamos combinar). Mas porque inventei de
dizer que os dois protagonizariam o primeiro beijo gay da novela brasileira.
Pra
quê: minha caixa de entrada transbordou com uma enxurrada de e-mails dos meus
nove leitores protestando que a primeira bitoca homoafetiva do folhetim
nacional havia se dado – ou se havia dado? – entre Marina (Gisele Tigre) e
Marcela (Luciana Vendramini) em Amor e
revolução, “clássico” de Tiago Santiago exibido no SBT em 2011.
Enviaram
pro sujeito errado. O destinatário deveria ter sido o Seu Walcyr. Afinal, foi
ele quem escreveu aquele projeto de capítulo; pelo menos, o espírito dele, que
– sabe-se lá por que macumba – baixou em mim na semana passada. Foi o autor
global quem rabiscou aquelas linhas, inclusive a afirmação que gerou tanto... babado.
E,
cá entre nós, ele (ou eu, nem sei mais) agiu nos conformes, como bom
funcionário da casa – que não enxerga selinho que se dê além do Jornal nacional. Se o smack não foi
noticiado pelo William, entrevistado pela Patrícia ou comentado pelo Alexandre,
não aconteceu. Se não apareceu no Fantástico,
não apareceu em lugar nenhum. E pronto. Acabou-se. Vida que segue – dentro da
caixinha.
Vejam
o caso do UFC, aquela briga de galo feita com gente. Antes de a emissora
comprar os direitos de transmissão, a “modalidade” não existia. Simples assim.
Podia o Anderson Silva quebrar os ossos do Schwarzenegger e Stallone juntos que
continuaria sendo o famoso quem?! Mas agora, amigos da Rede Globo, não há
novela sem ao menos um lutador de MMA. É a cota. Como a das periguetes.
Fenômeno
semelhante ocorre no Melhores do Ano, prêmio concedido pelo Faustão aos
destaques da tevê: não há um ser humano indicado que não seja da Todo-Poderosa.
Ah, um cricri dirá, a Hebe já foi homenageada no palco do Domingão com o troféu Mário Lago! (espécie de Oscar pelo conjunto
da obra). E quem disse que a Hebe era humana? Que eu saiba, veio do Olimpo e
pra lá voltou – linda de viver.
Lindo
de viver entrei eu certa vez num táxi, e qual não foi meu espanto ao perceber
que o motorista nem sonhava que nossas meninas do vôlei decidiam o ouro
olímpico naquele instante, em Londres, com transmissão ao vivo da Record. O
incauto do chofer acompanhava com ouvidos de ressaca o Luciano Huck. Loucura, loucura.
Então,
como Carrasco por um dia – como funcionário-do-mês-do-ano-da-década-e-até-que-a-rescisão-do-contrato-nos-separe
que se preze, que não tira o crachá nem no minuto do comercial –, eu disse e
repito, sem direito a cenas dos próximos capítulos: Marquito olha Félix no fundo (dos olhos). Os dois se
aproximam em super slow –
e se beijam. De pontinha de língua. É
o primeiro beijo gay da novela brasileira.
E a câmera se afasta enquanto os sinos repicam.
Plim. Plim.
Texto bem interessante, retrata bem o monopólio de uma emissora, que consegue dominar a massa e dar a impressão de ser a única opção, vejo essa emissora como uma máquina manipuladora a serviço da elite!
ResponderExcluirObrigado pelo comentário no meu blog!
Novela é coisa de idiota.
ResponderExcluirA TV brasileira é tão atrasada e preconceituosa que quando acontece essas cenas parece que descobriram o Brasil... não que os EUA sejam exemplos perfeitos, lá o preconceito é mais esclarecido, mas vc encontra um beijo entre dois sexos iguais numa sitcom... programa de familia rsrs e nas séries mais adultas rola até sexo :)
ResponderExcluirDiscordo que novela seja coisa de idiota. Novela é entretenimento, assim como filmes, programa de humor, cinema, praia, teatro, internet... Cada um busca o que está ao seu alcance e o que propicia descontração.
ResponderExcluirQuanto o beijo gay, não sei qual foi o 1º ou 2º... só sei que choca, mas a TV é a forma de enfrentar a opinião social.
Quando as pessoas praticarem o sentido da palavra RESPEITO vai entender que novela não é coisa de idiota, vai entender as ações necessárias de grupos de mulheres bem como de todos os movimentos sociais existentes.