O nome dele é Capitolino Mário Leão. Mora no 206. Alguns o chamam de
Capitão, como o zelador. Outros (o melhor amigo, por exemplo), de Mário. Uma
tia caquética, que aparece uma, duas vezes por ano, de Lininho. A mulher (aff!),
de Leãozinho. Mas nada disso importa muito. O que chama a atenção nele é uma
certa instabilidade – uma espécie de amizade colorida com o mundo.
Ontem mesmo. Estava eu esperando o elevador, quando ele chegou do
mercado. Seu Jair correu para acudi-lo: “Ajuda com as sacolas, Capitão?” “Quero,
sim, por favor.” “E o nosso, Mengão? Vai ou não vai?” “Vai! Com aqueles dois no
ataque, não tem pra ninguém!” “Opa!” “Domingo que vem vamos comer bacalhau,
pode anotar!”.
Acho que o (aff!) Leãozinho não tinha me notado. Pelo menos até entrar
no elevador. Antes que eu dissesse bom di..., me cumprimentou pela última
vitória do Vasco – e ainda me convidou para uma bacalhoada que a esposa
prepararia no domingo seguinte. O danado sabia que eu era cruzmaltino.
Agradeci, mas tive que recusar. Aniversário do sobrinho no mesmo dia, coisa e
tal. Fica pra próxima.
Pois a próxima aconteceu há pouco, quando eu passava em frente ao ponto de ônibus, aquele bem
perto da padaria. Peguei o malandro saltando do coletivo com um boné do Botafogo,
todo íntimo do motorista: “Hoje é Fogão na cabeça, Mané! A urubuzada que se
cuide! O Seedorf vem aí e o bicho vai pegar!”.
Hã?
Não era possível. Em coisa de 24 horas, o Capitão, Mário, Lininho, (aff!)
Leãozinho tinha sido rubro-negro, vascaíno e botafoguense. Eu nunca havia
presenciado vira-casaquite tão aguda. Só faltava ele... Não, não faltava.
Bastou o camarada topar com a tia caquética – à sua espera na calçada do prédio
– para ele encher a cara de pó de arroz.
Ah! Me subiu uma vontade de desmascará-lo!... Não só pelo simples
prazer de vê-lo sem máscara, com a bandeira do Bangu na mão. Mas por uma
questão de cidadania. É: cidadania. O Capitão Fanfarrão era candidato a
vereador. E – agora eu sabia por quê – liderava todas as pesquisas.
Sorte dele que a vontade me desceu logo. Despencou, na verdade. De
repente me ocorreu que talvez fosse interessante ter um vizinho parlamentar e tão...
eclético – futebolisticamente falando. O Capitão, Mário, Lininho, (aff!)
Leãozinho, se eleito, ia acabar precisando de um time de assessores, quiçá um
elenco inteiro, para atender a tantas torcidas. Um time remunerado, claro. Quem
sabe galáctico.
Hum.
Pensando bem, acho que o meu sobrinho não ficaria muito chateado se eu me atrasasse um tico para festinha dele: o
moleque sabe que eu resisto a croquete, cachorro-quente, refrigerante, até a
bolo de chocolate e brigadeiro – mas jamais a uma boa bacalhoada.