Ah, o Aparício.
Todo dia o pobre coitado chega em casa feito fugitivo – fugindo do trabalho que apenas tolera,
do trânsito que engarrafa suas horas, do caixa eletrônico que entra em
atualização justo na sua vez, da fila na farmácia que não anda, da
vizinhança que reclama, das más notícias que o Bonner continua a ler, da
mortadela que venceu há uma semana.
Sorte dele que naquela quarta-feira seu controle remoto
estava de ótimo humor e o levou até a Idade Média. Ah, a Idade Média. Não
espanta que a uma vez chamada Idade das Trevas sirva de oásis
na vidinha desértica de Aparício. Pelo menos aquela recriada em
Áquila, onde o feitiço de um bispo impede o encontro entre Isabeau e Navarre.
Qualquer cinéfilo (e
Aparício é um) conhece a lenda da bela mulher que é falcão enquanto há sol
e do nobre cavaleiro que é lobo enquanto há lua. Dos amantes que, mesmo
tão próximos, nunca se veem, jamais se tocam. Até o instante mágico em que
um eclipse gera um dia sem noite, uma noite sem dia, e o casal pode
finalmente derrotar o vilão, quebrando o encanto maldito.
(Para o leitor mais distraído, esquecido ou novinho, estou
falando do clássico sessãodatardiano Ladyhawke – O feitiço de Áquila, longa de
1985 dirigido por Richard Donner e estrelado por Rutger Etienne Navarre Hauer, Michelle Isabeau d’Anjou Pfeiffer e Matthew Phillipe Gaston Broderick, vulgo Rato.)
Pois ironia das ironias: não é que duas horinhas naquelas
florestas de névoa, naquelas montanhas de neve, naquelas fortalezas de pedra,
naquelas masmorras de breu salvaram nosso amigo
em fuga de mergulhar mais uma vez nas... trevas?
Pena que por pouco tempo. O tempo de um filme velho na tevê. De um
feitiço que se desfaz quando os créditos sobem. De um eclipse que sai de cena
antes de os corações serem felizes para sempre. De um sonho que
irremediavelmente se transforma em pesadelo ao encarar os bispos nossos de cada
dia.
De um Aparício que já acorda assustado por saber que, lá fora, o mundo insiste
em ser mundo. E o caixa eletrônico continua atualizando.
Parece interessante ,porem filmes medievais não é muito a coisa que eu gosto. Mas o texto esta perfeito e padronizado.
ResponderExcluirSaudades de rever este filme que passava muito na sessão da tarde no passado . Muito bom !!!
ResponderExcluirBelo post...e muito engraçado apesar de ser muito real...mas esse filme realmente marcou uma época...mas bola pra frente a realidade é dura porém nos dá momentos realmente encantadores e mágicos também...Excelente texto...#sempre!!!Com todos os créditos!!!rsrs
ResponderExcluirBJUX http://alternativassonoras.blogspot.com.br/
o texto ficou bom
ResponderExcluirparece ser um filme bom
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